19.5.07

Lisboa - II

Eu sou dos que ainda se surpreende pelo facto de, para umas eleições autárquicas, as estruturas locais, os militantes, os simpatizantes e os cidadãos em geral, não sejam tidos nem achados para a escolha dos candidatos.
Deve ser problema meu, pois toda a gente parece entender isso como natural. Mas não me consigo habituar a que um candidato a uma autarquia seja escolhido, sabe-se lá porque razões, por uma única pessoa. Será este certamente um iluminado, a quem as massas militantes, em bom estilo autocrático, confiam cegamente no seu discirnimento do que seja bom para elas próprias. Sei que é um estilo de governo bastante comum em várias partes do mundo dos dias de hoje, e um pouco por todo o lado históricamente. Mas confesso depreciá-lo por inteiro.
Que um candidato seja sufragado por comissões nacionais, presidentes e secretários gerais, comités centrais ou até em congressos partidários, é que me parece contraditório com o acto eleitoral em si.
Está tudo virado do avesso.
As estruturas locais, em vez de tentarem encontrar alguém que conheça as questões, que seja aceite pelos seus eleitores locais, e cujo projecto possa corresponder o melhor possível aos interesses do seu eleitorado, procura é agradar e influenciar verticalmente, o «chefe», aquele que conta. Nada de mais estrutural na politiquinha portuguesa do que o culto do chefe. E do «bando». Pois o que interessa a esta gentinha, é que os seus pequenos poderes se mantenham, como tão bem JPP definiu. Como se viu recentemente, no jogo do empurra «demita-se você. Não, você primeiro», as eleições são uma chatice. Criam instabilidade nos seus poderzinhos. E os eleitores são encarados como uns tipos sempre imprevisíveis, flutuantes, mudando de acordo com os seus interesses, sem respeito por «fidelidades», como eles, que tanto «dão à causa»...