Essa desgraça intelectual que dá pelo nome de César das Neves tem, pelo menos, o condão de revelar aquilo que muitos dos que concordam com ele tanto escondem: a equiparação identitária entre os vários fundamentalistas religiosos, a simpatia recíproca perante as 'tenebrosas e sinistras' ameaças da (pós)modernidade, da Ciência, do conhecimento e, sobretudo, a sua lógica irreprimível de 'causa comum' contra o exercício concreto da Liberdade.
É gente como Neves que transborda compreensão quando Salman Rushdie é anatemizado. É gente como Neves que se solidariza com o Irão, o seu «arguto» presidente e com as suas práticas «democráticas». É gente dessa estirpe que escreve, hoje, no DN, coisas assim:
«Os muçulmanos têm justificadas razões de queixa, a juntar aos cartoons nórdicos, que aliás se repetiram essa semana na Suécia. Os ocidentais, ditos civilizados, parecem não saber a diferença entre liberdade de expressão e insulto soez e gratuito.
Um pouco mais à frente, com a coerência que se lhe reconhece, afirma Neves, qualificando o regime iraniano: «... intolerância totalitária de uma fé imposta pela força ...».
Mas a chave do subido pensamento nevesniano sobre o Irão está aqui: « Por outro lado, o primeiro regime teocrático xiita da História não é uma ditadura desmiolada. É uma democracia que há quase três décadas manobra com argúcia na cena mundial.»
Bravo, Neves! Ainda vais ser convidado para o próximo Congresso destinado a provar que o Holocausto nunca existiu...