7.11.07

Impressões do regionalismo impresso

Para além dos «relevantes» problemas relativos ao meu clube, nesta notícia do «Sol», um detalhe chamou-me a atenção: «Como determina a Lei, o serviço de finanças do Porto, secção 4, vai divulgar a acção num jornal de circulação nacional - o Diário de Notícias publicará o anúncio este fim-de-semana

Ora, o que faz um jornal ser de «circulação nacional»? Estar à venda em todos os distritos, não importando que quantidade? Se assim for, teremos jornais de circulação nacional o 24 Horas, o Correio da Manhã, o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias e o Público, para apenas nos cingirmos aos diários. Mas será tal critério válido ou aceitável? Creio bem que não. ###

Segundo o Anuário da Comunicação do Obercom (relativo aos anos de 2005-2006), Portugal não terá jornais diários pagos de cariz nacional. Apenas imprensa regionalizada.

Veja-se a distribuição dos principais jornais, tendo-se presente que o Distrito do Porto tem cerca de 18% da população portuguesa e o de Lisboa 22%:

- O Jornal de Notícias, o segundo jornal diário com maior circulação do país vende 61% da sua edição no distrito de origem e apenas 3,5% no Distrito de Lisboa.
- O Correio da Manhã, líder nacional de vendas pagas, apenas tinha 1,21% da sua edição vendida no Distrito do Porto, o que dará pouco mais de mil e poucos exemplares diários.
- O Diário de Notícias, considerado de «referência», sê-lo-á apenas a nível da capital, em cujo distrito vende 63,74% da sua edição. Pelo contrário, no Porto venderá 4, 27,% da sua edição, correspondendo tal a um média diária de 1600 exemplares.
- O Público consegue uma melhor proporção relativa entre os dois distritos, mas ainda assim longe do equilíbrio do peso regional da população: 22% de vendas no Porto e 41,43% no distrito de Lisboa. Um total de 63% de vendas num território que terá em conjunto 40% da população.

Ok, pode alegar-se, com razão, que os distritos de Porto e Lisboa concentrarão a grande parte da população mais alfabetizada e com maior poder de compra. Pelo que será de todo natural que ali se concentrem as vendas dos jornais, com especial destaque para os mais locais: CM, DN e JN. Certo. Isso é sabido. Mas também é verdade que nenhum dos jornais diários referidos se poderá considerar «de circulação nacional» pois que as suas vendas são altamente desequilibradas em termos de cobertura proporcional no global do território.

Os dados do Anuário são também relevantes para nos darem uma imagem mais verdadeira do país, que por vezes se esquece: o conjunto dos 5 jornais mais vendidos diariamente perfazem um total de 356.765 exemplares de média/diária, significando que apenas cerca de 3,5% da população adquire diariamente um jornal. Isto para se ter um ideia de que quando se fala de «circulação nacional» ou «jornal de referência» se está a referir a pequeníssimas ou mesmo microscópicas percentagens da população.
E as vendas a descer.