22.10.05

«Eu não me resigno»

«Eu não me resigno» foi a expressão escolhida pelo presidente eleito, o Prof. Cavaco, como mote para o seu discurso inaugural. Mas a expressão tem um precedente curioso. Na última campanha para as Legislativas, quando perguntaram ao Eng. Sócrates como é que iria funcionar isso dos estágios para licenciados, ele respondeu:

Não vou dar pormenores, não me peçam para fazer o regulamento. Já faço um decreto-lei, genericamente. Isso não está definido. Eu não me resigno à ideia de que para combater o desemprego o melhor é esperar que passe. Para esperarmos um maior crescimento económico o melhor é sentamo-nos e esperar que o mundo melhore. Na saúde, serviços mínimos, na educação, quanto mais barato melhor. Eu não me resigno a isso. Acho que é preciso vontade e o Estado tem um papel a desempenhar.


Pois o Eng. Sócrates pode não se resignar, mas a verdade é que, de acordo com as próprias previsões do seu governo, o desemprego vai aumentar pelo menos até 2008. Só em 2009 é que o desemprego pode desce, o que é normal e expectável para uma crise da natureza da que atravessamos. Claro que entretanto, o governo gastará mais de 1000 milhões de euros a combater um desemprego que acabará por passar por si.

Quando um político socialista/social democrata diz que não se resigna, na verdade o que ele está a dizer é que defende medidas voluntaristas do estado para manter o status quo. Este é o verdadeiro significado da sua não resignação. Eles não se resignam à ideia de que o estado falhou e querem voltar à carga.

Nota: para início de conversa, o Prof. Cavaco, para poder ser candidato a Presidente, teve que se resignar à Constituição socialista que temos. Se ele não estivesse já resignado a uma série de coisas que emperram este país, seria candidato a Primeiro-Ministro e não a Presidente.