20.6.07

Preconceitos, dogmas e a autoridade da Razão

Há quem tenda a esquecer a ideia básica do Iluminismo: a Razão (e não o dogma) é a principal, se não a única, fonte da verdadeira autoridade. Segue-se a sociedade só pode mudar para melhor se as pessoas forem iluminados pelo conhecimento e pela Verdade por um processo de investigação sistemática. Isto é, se forem capazes de descobrir, pelos seus próprios meios racionais, quais as instituições que precisam de ser reformadas e porquê.

Note-se que a doutrinação, a formatação das consciências e o ensino de valores são contrários aos princípios do iluminismo porque visam substituir os velhos dogmas por novos dogmas. Baseiam-se na transmissão acrítica do dogma e rejeitam ou pelo menos prescindem da autoridade da Razão.
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Isto é cada vez mais claro na questão dos preconceitos. De acordo com a tradição iluminista, a única coisa que é preciso para acabar com os preconceitos é confrontá-los com os factos à luz da Razão. É uma receita universal que funciona para todo o tipo de preconceitos.

Um sistema de ensino focado no ensino do pensamento crítico eliminaria todos os preconceitos porque os próprios alunos adquiririam a capacidade de pensar criticamente em relação a tudo o que fosse dado como certo. O problema do pensamento crítico é que só reconhece a autoridade da Razão e rejeita todas as formas de autoridade impostas pelo poder. Não é por acaso que o ensino em Portugal evoluiu da de um ensino que servia para transmitir os dogmas tradicionais para um ensino que serve para transmitir os dogmas modernos. Quem tem o poder não tende a estimular o pensamento crítico que pode pôr esse poder em causa.

No ensino português os preconceitos são combatidos com a imposição de novos dogmas. Veja-se todo o discurso à volta dos valores e a insistência cada vez maior em disciplinas cuja função é transmitir dogmas. Dogmas que os alunos nunca confrontam com a razão e cuja aplicabilidade é limitada aos preconceitos que o sistema optou por combater. Os alunos são preparados para o passado. Como não são incentivados a pensar criticamente e a considerar a Razão como única fonte de autoridade estão preparados para combater os preconceitos do passado mas serão totalmente incapazes de combater os do futuro.