22.6.04

A EUROPA QUE RESTA

Caros CL e MP

Será que ainda vale a pena falar da Europa? Aqui ou no UK? Merece a pena lutar contra a aceitação generalizada e acentuadamente ruminante deste desenlace cinzento?

O silêncio acéfalo triunfou. A Europa dos burocratas, sem réstea de sonho fundador, a Europa triste, sem rumo, que solavanca de cimeira em cimeira culpando os outros das suas lacunas, a Europa de um modelo social esclerosado e anacrónico, a Europa dos políticos sem rosto, sem projecto para além do pessoal, sem nada, agora até sem pátrias, está aí para ficar.

Os actuais líderes (?!) europeus levaram ao extremo a máxima de que vale a pena fazer dos outros estúpidos. Fizeram-no e venceram perante a apatia dominante. E estúpida.

Julgam que eles se queixam da abstenção seriamente? Claro que não! Crêem os néscios que ficaram na praia ou que votaram no partido aconselhado por aquele Nobel indigno e desenganado que os medíocres de sorriso aberto e alegre que governam as regiões da Europa se entristeceram com o afastamento eleitoral dos seus povos?
Desenganem-se, porque "eles" ficaram felicíssimos. Quanto menos as pessoas pensarem, quanto menos ligarem ao que se passa, melhor será para a gente daquela estirpe.

A abstenção, i. é o desinteresse crescente e inultrapassável pela política, é o alimento destes homens e mulheres cinzentos, desprovidos de cultura democrática, que as instituições europeias cospem em série - a constituição europeia é bem a filha dessa gente.

Só na próxima crise verdadeiramente séria é que as pessoas vão dizer, estupidamente mas com razão, "ninguém nos perguntou nada". E depois talvez tudo desabe. Porque esta Europa é a imagem acabada de um "tigre de papel" (digo eu, numa vénia incontida e inconfessada ao nosso PM), de arranjos artificiais colados com "cuspe", bonitinha por fora mas já demasiado podre por dentro. Esta Europa de índole franco-alemã não aguentará uma boa tempestade.

Mas amanhã não será ainda a véspera desse dia...