28.8.04

Complexos de Culpa...

Sem grandes preocupações de sistematização da informação, nem grande reflexão e análise crítica das respectivas "fontes" e metodologias, já pude deparar com vários estudos, de caracter estatístico e analítico, a começar pelos relatórios do Banco Mundial (World Bank, World Development Report; World Bank, Human Development Report; World Bank, World Development Indicators, World Bank, Globalization, Growth and Poverty, etc.), que demonstram, entre outras, as seguintes conclusões (agora registadas avulsamente e um pouco ao sabor da memória ou de apontamentos rápidos):

- no decurso do século XX, o PIB per capita de uma determinada amostra de países africanos (entre os quais, recorrentemente, o Gana, a Costa do Marfim, o Bangladeche e, de há alguns anos a esta parte, também, por exemplo, Moçambique) cresceu significativamente, ou seja, mais de 100% - pese embora, nessa região, o crescimento do PIB tenha abrandado na última década do século XX;
- no decurso do século XX, o PIB per capita da região Asiática, quadriplicou (sobretudo, a partir de meados da década de 1950);
- a evolução do PIB per capita da América Latina, passou, em média, de pouco mais de 1600 USD, em 1920, para um pouco mais de 4000 USD, em 2000;
- após a assimilação do conceito de globalização e a sua utilização oficial/corrente, em forma de critério de análise estatística, dividindo as economias em mais-Globalizadoras e menos- Globalizadoras (em desenvolvimento), pode afirmar-se que estas (menos- Globalizadoras) tendencialmente decresceram e divergiram, enquanto que as economias mais Globalizadoras, cresceram e convergiram (World Bank, Globalization, Growth and Poverty, 2002);
- de um modo geral, após 1980, as economias e os Países aderentes ao processo de globalização viram os índices de desigualdade, entre si, diminuírem notoriamente, ao invés do que sucede com os Países mais fechados ao "livre-cambismo" e ao dito processo de globalização.

Parece-me claro que, de um modo geral e em termos absolutos, em todas as regiões do mundo, o século XX acabou por trazer mais riqueza e mais desenvolvimento humano. Também é verdade que, em termos relativos, as desigualdades económicas persistem; após 1980, é, contudo, verdade que a divergência entre economias mais e menos inseridas na referida dinâmica globalizadora, tornou-se mais evidente.

Por outro lado, em termos de ciclos, desde o século XIX (pelo menos), é empiricamente observável que os períodos de maior desenvolvimento corresponderam sempre a períodos de abertura e desenvolvimento do comércio internacional, sendo uma "lei" (no sentido de "lei" económica) que o incremento do "livre-cambismo" favorece a criação de riqueza a nível mundial, afectando beneficamente todas as regiões - mesmo aquelas que se mostram mais fechadas ao comércio internacional (se bem que, em termos comparativos, como é normal, com menores benefícios).

Dito de outro modo, só posso ter um crescimento e um bem-estar económico sólido e sustentável (em termos óptimos), se todos também tiverem cada vez mais riqueza! No fundo, o crescimento económico contribui para que todos - inclusivamente, os mais pobres - tenham uma melhoria da sua situação, disponham de mais oportunidades, possam, também, ser menos pobres (quer em termos relativos, quer em termos absolutos).
Mais: é pressuposto da sustentabilidade e da maior ou menor intensidade do meu bem estar (indirectamente e a médio prazo) que todos sejam cada vez mais ricos, ou cada vez menos pobres.

A riqueza é dinâmica, é um fluxo variável, pelo que o combate à pobreza, só por miopia, é que que pode concentrar-se apenas na ideia peregrina de que tudo se resolve através de políticas de redistribuição! Há, sobretudo, que criar mais riqueza.

Poderia continuar, porém, acho que estas reflexões alinhavadas sem grandes preocupações permitem-me já fundamentar a minha frontal oposição a frases como "O capitalismo gera mais pobreza do que riqueza" ou,

principalmente,

esta "pérola" de preconceito serôdio, estruturalmente marxista e romântico, de um (muito) tradicional "complexo de culpa", típico da cultura e da mentalidade dominantes e "bem -pensantes" das sociedades ocidentais, desenvolvidas, (das nossas sociedades) :

"O teu bem estar é adquirido á custa do bem estar de alguém noutro lado".

Pessoalmente, sentindo-me na obrigação de agir solidariamente, (diría, também civicamente), não me acho, contudo, NADA responsável pelo que se passa, por exemplo, em Angola. Mais, o meu relativo bem-estar não é responsável pela miséria imoral com que se debatem muitas populações como, por exemplo, a Angolana, só para falar de exemplos que cultural e historicamente, nos são próximos....caro Paulo Querido!

Tentarei voltar a este tema (os "nossos" estranhos "complexos de culpa")...