28.9.07

Formação cívica*

6, 350 kg. Quem ou o quê pesa 6, 350 kg.? Os manuais escolares duma das filhas de Joana Pontes. Provavelmente por ser realizadora Joana Pontes descreveu, no PÚBLICO, quase como quem organiza um guião, aquilo que é o início do ano escolar do ponto de vista das famílias: são as listas de material e os horários que só se dão a conhecer no início das aulas; o peso absurdo da mala e a inexplicável distribuição da mancha horária. Agora, com as aulas começadas, eu gostaria de acrescentar outras dúvidas. Por exemplo, será necessário esperar por Setembro para se saber quais os alunos que têm apoios sociais? E como é possível que o guichet da venda de senhas de refeição encerre quando estão dezenas de crianças numa fila à espera para comprar a senha para o almoço desse dia? ###
Dirão que são detalhes mas estes são os detalhes que infernizam a vida das pessoas cujos filhos frequentam as escolas públicas. Esta escola quotidianamente autista vê-se pouco. O dia-a-dia não faz notícias mas devia fazer pois é nessa rotina que acontecem os maiores problemas. Por exemplo, alguém sabe o que foi feito da TLEBS? Oficialmente a última vez que se falou sobre esta terminologia linguística foi numa portaria datada de 18 de Abril em que se anunciava que a TLEBS entrava em revisão científica. Até quando? E até quando a ministra vai continuar em silêncio sobre este assunto que afectou milhares de estudantes e professores?
Mas podemos continuar na lista das dúvidas. Por exemplo, podemos tentar entender esse concurso de charadas que é o programa de História e Geografia dos 5º e 6 anos ou interrogarmo-nos sobre o conteúdo de disciplinas como Área de Projecto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica. A carga horária destas disciplinas é cada vez maior. A primeira delas, Área de Projecto, é uma fraude. A segunda, Estudo Acompanhado, pelo menos permite que, às vezes, os TPC’s sejam feitos na escola. Para o fim deixo a Formação Cívica. Esta disciplina proporcionou um dos momentos mais insólitos do presente ano lectivo e político. Esse momento aconteceu quando o ministro da Administração Interna, Rui Pereira (e repito que foi o ministro da Administração Interna e não da Educação) explicou que a disciplina de Formação Cívica era muito importante para a "a mudança de mentalidades e a construção de um Portugal melhor". Cabe perguntar quem disse ao ministro da Administração Interna que as famílias devem mudar as suas mentalidades em função do proselitismo do MAI?
Domesticamente a minha experiência da dita Formação Cívica começa pelo preenchimento de fichas e mais fichas sobre o agregado familiar. Escreve-se o mesmo que no acto da matrícula mas é um clássico. Cumprido este ritual entra-se na maravilhosa idade de ouro da unificação europeia ou esmiuça-se o comportamento da turma com vista à almejada “mudança de mentalidades”. Com tudo isto as mentalidades vão andando. A escola é que vai de mal a pior.

*PÚBLICO, 27 de Setembro