24.9.07

A implosão...do PS?

Carrilho assina hoje, no DN, um artigo sobre "as ameaças que pairam sobre o sistema partidário" e que, na sua perspectiva "ficaram claras com as eleições intercalares de Lisboa".

Apesar de tudo - quer dizer, da referência ao sistema partidário - transparece sempre, ao longo do dito texto, a sensação de que Carrilho não pretende mais do que falar sobretudo de e para o seu partido. É da hipotética implosão do PS que se trata, até mesmo porque nota-se que Carrilho, com este artigo, pretendeu também dizer "eu bem avisei", "eu bem disse"! - principalmente, quando se lê o último e conclusivo parágrafo do texto. ###

De todo o modo, MMC entende que o fenómeno dos independentes (os por si denominados "dissidentes de ocasião") "pode na verdade ter consequências muito negativas para a vitalidade da democracia". Mas, esta sua conclusão baseia-se no caso dos "falsos independentes" que são ex-militantes dos partidos e que, circunstancialmente, por divergências várias, concorrenciam com eles (e, com algum sucesso, se pensarmos precisamente nas eleições intercalares para a C.M. de Lisboa). Não serão, assim, verdadeiros independentes que emanam da "sociedade civil", representando-a directamente.

Carrilho até poderá ter razão, ao fim e ao cabo, quando considera erróneas estas situações "independentes", qualificando-as de "contrabando de designação".

Só não se percebe porque é que Carrilho acha que fora dos partidos - e, pressente-se nas entrelinhas, fora DESTES partidos - só poderão existir ou os tais "dissidentes" ou nada! Ou os partidos (tal como os conhecemos) ou o caos... E isto, ao ponto de reservar aos independentes, à denominada "sociedade civil" e aos movimentos de cidadãos, o papel de "somar(em) competitivamente ideias e debates, projectos e desafios aos partidos", mas sem nunca pretenderem substituí-los...

Eu continuo a pensar que a participação na res publica deveria ser, também ela, concorrencial, entre todos aqueles que quisessem intervir, sejam partidos, organizações ou movimentos de qualquer natureza ou simplesmente cidadãos.

Não deveriam, idealmente, existir barreiras à entrada deste mercado...ao contrário do que sucede, de facto, pelo menos entre nós.

Não creio que, pelo menos como ponto de partida, se deva pressupor que uns - os partidos - podem actuar e os outros, todos os outros, podem, quando muito, se quiserem e os deixarem, escrever em blogs, pensar, participar em think-tanks (promovidos e orientados pelos partidos)...mas não, de maneira alguma, concorrer em eleições.

Este tipo de discurso acaba por ser uma das mais robustas e eficazes defesas (porque indirecta e talvez não intencional) do status quo aparelhístico-partidário que - esse sim - destrói mesmo a democracia!