30.9.07

Aguaceiros

Como o dia está de chuva pode ganhar-se algum tempo a ler este post da http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/

«O semanário Sol, na edição de hoje, publica em manchete: Escutas provam que Sócrates faltou à verdade, no caso da demissão de Souto Moura. A s transcrições do Sol de hoje, vão obrigar à instauração de um processo crime por violação de segredo de justiça, na vertente recentemente aprovada pelo novo CPP.
Mas...o assunto, obviamente, está arrumado. Depois de Souto Moura sair como saiu, ainda teve que aguentar um Inquérito parlamentar a propósito da anedota do envelope nove, tornado uma das questões de regime democrático por um deputado mandatado por um partido e a presidir a uma Comissão.
A questão concreta do Inquérito parlamentar, era a de perceber como é que uma lista de telefones de dignitários do Estado, tinha aparecido escondida numa disquete apensa no processo Casa Pia.
O caso das escutas a Sócrates, e agora o caso revelado pelo Sol vale apenas o tempo de um dia de primeira página de um jornal. Ninguém mais quer saber se Sócrates eufemisticamente falta à verdade, se andou a conspirar para tirar o antigo PGR do lugar e principalmente por qual razão particular o terá feito. Dá a impressão que Sócrates poderá fazer o pino da evidência mentirosa que todos aplaudirão a performance de virtuoso. ###
O anterior director da Polícia Judiciária, Santos Cabral, corrido do lugar por este governo, obviamente por Sócrates, deu uma entrevista à última Visão, a propósito de um livro que escreveu sobre a sua experiência na PJ até Abril de 2006.
Numa das passagens, diz assim, referindo-se às alegadas pressões no caso da investigação do Freeport: "Pressões directas nunca sofri. Agora, tínhamos a noção de que certas investigações, ao tocarem certos interesses poderosos, geram mal-estar em algumas pessoas. E senti que havia muita gente a sentir-se mal com o nosso trabalho. "
Que não subsista a mínima dúvida em ninguém: o poder político que governa, não suporta bem nem muito tempo quem lhe pode tirar o tapete do poder real, através das investigações criminais, que decorrem por força da lei. Os Soutos Mouras são o diabo em figura de gente, para esta gente. Como não respondem a tempo e com a conveniência politicamente esperada e normalmente exigível, tornam-se figuras a abater a todo o custo, como se comprova.
A questão, com este género de procedimentos políticos, é saber até que grau determinado poder político, suporta a pressão das investigações verdadeiramente independentes e autónomas. Este poder político liderado por José Sócrates e acolitado pelos Albertos Costas, Lacões e outros Albertos Martins, já provou de sobejo que tem uma margem de resistência democrática, a essas contrariedades, que é mínima. Na realidade, menos do que mínima, o que diz muito da qualidade da nossa democracia actual.
Para quem resistiu à ditadura de Salazar, só pode ser de uma profunda tristeza democrática, este facto que já é notório.
O Sol de hoje, refere o episódio já conhecido, de terem existido manobras de bastidores, de indivíduos que se mexem bem no aparelho de Estado, através de amizades em lojas e esquinas, no sentido de porem a andar do lugar o antigo procurador-geral da República, Souto Moura, antes de terminar o mandato.
Como se sabe, não conseguiram, mas que tentaram, tentaram. E porquê, afinal?
É de certo modo um mistério, mas bem analisadas e contextualizadas as coisas, sem segredo à vista. Havia um grupo de interesses coincidentes. À imensa larica do PS, acompanhada de um BE com ar de biafra, juntava-se a gulodice de um CDS, a que um empanturrado PSD não importunava.
Do que se fica a saber, em resumo e para o que interessa, é que Abel Pinheiro é amigo do peito de Rui Pereira. Abel Pinheiro, conseguiu o apoio de Sócrates para colocar Rui Pereira, no lugar do PGR Souto Moura, antes de este acabar o mandato, através destas pequenas amizades caseiras com Paulo Portas. Este, como amigo do tal Abel Pinheiro, aparece muito mal neste retrato e pode arrumar as botas de paladino da transparência.
Os três, Sócrates, Pinheiro e Portas, conspiraram para convencer Jorge Sampaio, então PR, a colocar na PGR, Rui Pereira, logo, logo, o que implicaria a demissão de Souto Moura. É isto admissível, em democracia?
Tirando a questão particular sublinhada pelo Sol, de que Sócrates "faltou à verdade" comprovadamente, o que também neste caso, nada admira ou adianta, tendo em conta o que já se sabe sobre o triste episódio da licenciatura, subsiste a questão de fundo, mais importante ainda:
É isto admissível nesta democracia que pretende ser um regime solidamente implantado em Portugal?
Para alguns, estes procedimentos, são perfeitamente admissíveis e banais na sua normalidade.Tal entendimento, só mostra a concepção particular da democracia como regime de país bananeiro ou, no caso, de traficante da droga mais poderosa que existe: o poder. Só isso conta. Porque só assim se explicam estes tristes episódios»