19.10.05

Hermenêutica do «sistema».

"Para mim é inaceitável e saberei retirar as consequências. Fui violentado", disse Dias da Cunha, Presidente do Sporting, a propósito da sua decisão de aceitar a demissão de José Peseiro e de um administrador-executivo da respectiva S.A.D. leonina.

Suponho que as consequências só poderão ser ou a respectiva demissão do cargo de Presidente de tal instituição que o obriga a violentar-se, ou a conclusão de que, afinal, terá decidido mal!

Na segunda hipótese (auto-reconhecimento de que tomou uma má decisão!), ainda assim, o resultado lógico deverá também ser, então, a demissão...uma vez que Dias da Cunha, Presidente, concluiu que, enquanto Presidente daquela instituição, decidiu mal! Ou seja, foi - pelo menos naquele caso - um mau Presidente!

Dito de outro modo - e a não ser que Dias da Cunha seja masoquista e goste de ser "violentado" - as consequências que nos afiança que "saberá retirar", empurrá-lo-ão, sempre, para a demissão!

Há ainda uma outra hipótese: talvez Dias da Cunha não tenha sido, afinal, assim tão violentado como isso! Talvez tenha exagerado. ...
Mas então, a ser assim, isso significará que a decisão em causa 1) não foi má, ou que, 2) sendo má, afinal de contas não incomodou assim tanto (ou nada) o Presidente?

Se não foi uma má decisão (1) e, portanto, não violentou Dias da Cunha, isso significa que o Sporting tem um Presidente irreflectido, precipitado e com tendência para o dramatismo e a vitimização! O que, seguramente, fará dele um Presidente imprestável para a sua instituição. Logo, neste contexto, se se concluiu que, afinal, Dias da Cunha tem, enqanto Presidente, tais características, logicamente, restar-lhe-á pedir a demissão!

Mas se a decisão foi mesmo má (2) e, contudo, acabou por não incomodar assim tanto o Presidente (apesar da retórica auto-vitimizadora e dramática), então, Dias da Cunha continua a ser um mau Presidente que, em síntese e por consequência, também deverá pedir a demissão!

Aguardemos, portanto, pela demissão (ainda) não expressamente reclamada por Dias da Cunha, mas necessariamente subjacente à sua declaração....ou então, não ! (em homenagem ao velho aforismo* de Pimenta Machado)

* No futebol, o que hoje é verdade, amanhã...