Escreveu, muito avisadamente, o José Barros:
«Ora, como eu disse, se o argumento se destina a convencer as pessoas que estão inclinadas para votar "sim" a votar "não", então não faz sentido: não faz sentido que alguém que queira descriminalizar o aborto por entender que as mulheres não devem ser condenadas pela prática do mesmo, aceite, votando pelo "não", não só que as mulheres continuem a ser condenadas, como também pagar essa perseguição criminal! É uma questão de lógica e não de ética. O argumento não faz sentido, porque pressupôe que uma pessoa não só não obtenha o que quer (descriminalização) como pague ainda o que não quer (perseguição criminal das mulheres). A opção pelo "sim" garante o resultado desejado (descriminalização), ainda que, eventualmente, com o custo indesejado (pagamento de abortos tendencialmente gratuitos).
A isto acresce que o financiamento do aborto no SNS dependerá de lei ou decreto-lei e não de um futuro referendo, o que facilita obviamente a sua revogação. O mesmo não sucede é claro se o "não" ganhar, visto que dificilmente será possível nos próximos 10 anos fazer novo referendo.»