Algarve.
Primeiros dias de Agosto.
Muito calor, muita gente. Aparentemente, em certas localidades, a falta de estruturas que dêem resposta a um acréscimo da população veraneante, turística, até ilude os números e as queixas amarguradas dos operadores algarvios, relativamente à significativa baixa de facturação que tem vindo a marcar este ano de 2004, no sector hoteleiro do Algarve.
O certo é que, independentemente dos congestionamentos de transito, com engarrafamentos imprevisíveis e enervantes, para além da tradicional falta de máquinas multibanco e (mais ainda) crónica falta de liquidez disponível, nas ditas máquinas, mesmo ignorando o desconforto de partilhar e repartilhar os míseros metros quadrados disponíveis em piscinas, restaurantes e praias, obrigando-nos a uma forçosa e constrangedora intimidade com os vizinhos, formando-se uma espécie de embaraçosa, mas inevitável, cumplicidade de infortúnio, mesmo abstraindo-nos dos excessos , em matéria de preços, praticados por (quase) tudo o que é comerciante, prestador de serviços vários, ocasionais ou não, mesmo esquecendo as batalhas campais para reservar, em certas tabacarias, os jornais ou o que quer que seja, esquecendo que, em termos concorrenciais, nuestros hermanos ali tão perto oferecem, de um modo geral, o mesmo tipo e qualidade de serviços, por preços significativamente inferiores, independentemente de tudo isso, há, porém uma coisa que é digna de não ser esquecida, quando se tira a fotografia ao Algarve dos primeiros dias (1ª quinzena) de Agosto: a total inexistência de serviços mínimos de saúde, de assistência médica!
Já não falo do tradicionalmente caótico, ineficaz e perigoso Hospital Distrital de Faro que estava, segundo a imprensa, sobrelotado em cerca de 40%. Já não falo dos poucos (pouquíssimos) centros de saúde (quase inexistentes para a própria população local - quanto mais para aquela que nos meses de Verão, desagua em Terras Algarvias!); já não me preocupo com o facto de, naturalmente - mesmo de acordo com o conselho avisado dos próprios médicos do dito Hospital Distrital - ser melhor, em caso de urgência, ir directamente para Lisboa; mas, o que acho estranho e muito sintomático, é que, mesmo socorrendo-nos do sector privado, nada exista! Dito de outro modo, existir, até existe (tenho, comigo, o endereço e o telefone de cerca de uma dezena de clínicas e consultórios de várias especialidades, sitos na zona de Albufeira/Guia/Armação de Pêra), porém, estão fechados (alguns disponibilizando uma enervante gravação avisando quem telefona de que o consultório/clínica/etc. reabre depois do dia 20, 31, ou sei lá quando), encerrados para férias!
Uma das situações mais graves prende-se com uma especialidade que, em tempo de férias de Verão, em locais com tamanha aglomeração de crianças, se torna sempre necessária e, de preferência, com serviços de urgência: a Pediatria! Pois, na prática, quase não existe, neste período, pura e simplesmente!
Ora, face às necessidades que pude comprovar existirem, perante uma procura que, pelos vistos e a avaliar pela urgência de Pediatria do tal Hospital Distrital de Faro, não para de crescer nestas alturas, só posso chegar a uma conclusão: não existe ainda (talvez nem se caminhe para tal, ....) uma verdadeira lógica de mercado, neste específico sector de actividade: o da sáude! Talvez a oferta de serviços médicos seja reiterada e constantemente (e corporativamente) menor, do que a procura - seja lá por que razões (algumas delas todos nós as conhecemos ou, no mínimo, antevemos)........
Esta situação parece-me, na realidade, tão estranha e caricata - repito, numa região de turismo que se pretende de qualidade e concorrencial, em termos internacionais, com um "pico" de actividade nas primeiras semanas de Agosto - como seria, hipoteticamente, aquela outra de fecharem hóteis e restaurantes, para férias, precisamente, neste período estival!