13.8.04

O natural, o artificial e o espontâneo XI

Como é que um povo que não sabe gramática inventa uma língua?

Algumas das respostas dadas:
  1. da mesma maneira que descobriram as outras coisas.
  2. a teoria do Chomsky
  3. a língua foi inventada por um gramático da idade da pedra e imitada pelos restantes
  4. a língua foi inventada pelos líderes da tribo e imitada pelos restantes
  5. a língua foi inventada por tentativa e erro<>
A solução 1 na verdade não resolve o problema porque pretende responder a um mistério com um mistério ainda maior. As soluções 2 remete a questão para a evolução biológica. As soluções 3 a 5 pressupõem a invenção deliberada e consciente da língua.

A invenção consciente e deliberada da língua é improvável por várias razões:
  1. uma língua tem uma estrutura coerente que não se explica pela mera invenção de uma palavra de cada vez;
  2. o inventor de uma língua tem que ter conhecimentos avançados de gramática, conhecimentos esses que nós sabemos que os nossos antepassados não tinham;
  3. o inventor de uma língua precisa de manipular símbolos através da linguagem que ainda não foi inventada;
  4. as línguas mudaram ao longo de milhares de anos e muito lentamente.
As soluções propostas pelos cientistas para resolver a este problema são soluções que conjugam mecanismos de evolução biológica com mecanismos de evolução cultural. Alguns autores tendem a preferir soluções baseadas predominantemente na evolução biológica e outros soluções baseadas predominantemente na evolução cultural.

As ideias que nos ajudam a explicar a origem das línguas são ideias como as seguintes:
  • a língua confere uma vantagem àqueles que a usam, logo qualquer mutação genética que permita melhorar a forma como as pessoas comunicam é favorecida. Aqueles que a possuem sobrevivem e multiplicam-se muito mais do que os outros;

  • Grupos que desenvolvem os seus próprios dialectos são menos vulneráveis a free riders porque os seus membros reconhecem os estranhos mais facilmente. Os grupos que não desenvolvem o seu próprio dialecto tendem a desaparecer;

  • a língua confere uma vantagem àqueles que a usam, logo qualquer nova regra gramatical que permita melhorar a forma como as pessoas comunicam é favorecida. Aqueles que a possuem sobrevivem e multiplicam-se muito mais do que os outros;
  • aqueles que falam de forma mais clara são mais apreciados pelos restantes e têm mais sucesso reprodutivo. Transmitem os seus genes e a sua forma de falar a mais pessoas;
  • Os sons e as palavras que favorecem a fiabilidade das mensagens sobrevivem e multiplicam-se.
Nenhuma destas soluções envolve desígnios humanos. Os processos evolucionários são cegos e as pessoas envolvidas não têm consciência de que estão a participar neles.