Pelo que tenho ouvido - e, repare-se, o "diz-se, diz-se"... é sempre muito contingente - devo ser dos poucos portugueses que não teve ainda o privilégio de escutar, à sucapa, uma das inúmeras cópias piratas que, das famosas e melindrosas gravações sobre o caso "Casa Pia", circulam por aí. Parece que, acompanhando o movimento normal das elites políticas, as ditas cópias não autorizadas das gravações também (nem sempre) autorizadas, estarão a banhos, ou seja, também já chegaram e circulam de mão em mão, de guarda-sol em guarda-sol, de aldeamento em aldeamento, no Algarve! Entretanto, uma providência cautelar impediu uma revista de publicar excertos das ditas gravações que, pelo que ouço, já muita gente conhece.
Mas, vejamos os FACTOS, para chegarmos a algumas (SÓ ALGUMAS, DE ENTRE MUITAS) conclusões possíveis:
1º Existe um jornalista que, por "artes magicas", consegue pôr toda a gente com responsabilidades directas ou indirectas no caso judicial mais quente e melindroso da nossa democracia, a falar, a opinar e a confidenciar! No mínimo, como quem comenta com descontracção natural o último jogo de futebol da pré-temporada ou, quando muito, como quem precipitadamente desvenda segredos inerentes à sua função, ao primeiro "parceiro" que lhe aparece! É caso para se dizer que alguns dos nossos altos cargos de autoridade e de responsabilidade política, judicial, etc., etc. ou são ocupados por quem é irresponsável, ou por quem é muito carente que, à primeira oportunidade, desabafa, desabafa, desabafa a quem se predispõe a ouvir! O que, salvo melhor opinião, lá irá dar ao mesmo...
2º Esse mesmo confidente, depositário de tais revelações que, a avaliar pelos efeitos (pelo menos, uma demissão e uma crise na nossa polícia de investigação), serão bombásticas e muito melindrosas (já nem falo desse estranho e, entre nós, muito polémico crime de violação do segredo de justiça...), deixa-as displicentemente, à "mão de semear", num armário (ou seria secretária?) do seu (aparentemente, nada reservado) local de trabalho....
3º Alguém - necessariamente frequentador do tal local de trabalho do dito jornalista e conhecedor do interesse de tais gravações - furta-as e multiplica-as, distribui as cópias pirata pelas redacções dos órgãos de comunicação social e, sabe-se lá que mais?.... até talvez as venda por uma módica quantia que lhe permita custear as suas férias algarvias....
4º Como seria de esperar, alarga-se, a cada dia que passa, o número de pessoas que, informalmente, já acedeu a tais gravações. Porém, por maior que seja tal número de privilegiados (infelizmente, eu não sou...mas ainda espero vir a sê-lo), há sempre alguém que não as ouviu e, consequente e naturalmente, estão criadas todas as condições para que a especulação e os boatos (serão mesmo?) cresçam também, mais do que proporcionalmente ao crescimento do número dos que tiveram a oportunidade de ter tais gravações na mão! É o que já sucede, actualmente......
5º No meio disto tudo, em plena época de especulação sobre tudo e todos, apela-se a um "Pacto de regime"....que, quer se queira, quer não, ainda que não se dirija directa e assumidamente aos contornos do caso e ao seu eventual esquecimento, tem sempre o ar de "Pacto de silêncio"!!!
As CONCLUSÕES poderão ser(para além da existência de uma inquietante promiscuidade entre jornalistas e políticos e de outras conclusões reflexas e laterais de que, por exemplo, em 10-8-04, JPP, no Abrupto já revelou de forma brilhante, directa e muito clara):
- Qualquer tentativa para ultrapassar o suposto melindre do caso, através de um "Pacto de silêncio", nesta altura do campeonato e com a proporção que tal surrealista caso já atingiu, para além de nos deixar mesmo a suspeita de que coisas muito graves se passaram, é uma tentativa absolutamente inidónea...
- A melhor forma de salvaguardar o que ainda resta de credibilidade e de confiança nas Instituições é mesmo publicar as ditas gravações (isso sim, seria - agora - satisfazer o tão badalado, apregoado e convenientemente invocado "interesse público"!)
- Sem, embargo, os "deuses devem estar loucos"!
P.S. - 1 - as conclusões podem ser cumulativas;
P.S. - 2 - o leitor escolha....