José Saramago tem coerência. É comunista. Bateu-se por isso. Saneou. Fez campanhas. Marchas. Libelos. Praticou tudo o que um comunista musguento acha como dever. Sem vacilar. Nunca permitiu que o tempo e a história alterassem uma vírgula no seu catecismo.
Apoiou as práticas dos regimes do Leste, sofreu com a Queda do Muro de Berlim, rosnou odiosamente perante as manifestações de júbilo dos povos que, finalmente, conheciam a liberdade. Exaltou guerrilhas e assassinos de todos os tipos e cadastros. Ao longo da sua vida manteve constante o seu desprezo pela Liberdade e uma indisfarçável ternura por crenças, ditaduras e regimes que fazem do terror um instrumento banal.
Agora o Horror mostra uma nova face. Mas Saramago não desarma - o mundo é feito de equações simples para os homens de muita fé. Limita-se a enquadrar as novas realidades nos velhos e apertados esquemas do seu estalinismo indefectível.
Ontem, em San Sebastián, propôs um Pacto Entre o Islão e o Cristianismo. Mas acrescentou esta inacreditável fundamentação para o terrorismo islâmico:
«El escritor asoció el despertar del fanatismo islámico en Occidente al "desprecio y la autosuficiencia con que siempre hemos tratado todo lo que tiene que ver con los árabes y los asiáticos. Los veíamos como un paisaje donde sólo acudíamos a sacar y, claro, se han cansado"».