um bom/mau resultado nos sub-items "instituições privadas" ou "eficiencia do mercado de trabalho" é sinal de competencia/incompetencia dos gestores privados.
Por uma questão didáctica, vamos aplicar estas ideias a Angola. Certamente que se se analisar os resultados de Angola se descobrirá que os gestores privados angolanos são péssimos. A má classificação nos sub-items de "instituições privadas", que incluem ética empresarial e responsabilidade perante os accionistas, ou nos sub-items de eficiência do mercado de trabalho, que incluem gestão profissional, produtividade, fuga de cérebros e emprego feminino, seriam prova de péssima gestão. Claro que se alguém for dizer isto a um gestor angolano ele nem sequer percebe do que é que se está a falar.
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Depois da coisa bem explicadinha e depois de o gestor angolano se parar de rir da acusação de incompetência ele começaria a explicar umas coisas simples sobre o que é a actividade empresarial. Em primeiro lugar, começaria por explicar que se encontra descapitalizado, por vários motivos, desde a guerra à corrupção no seu governo. Explicaria que se seguisse qualquer tipo de ética empresarial seria trucidado pelo mercado que existe. Explicaria que nem vale a pena falar em accionistas tendo em conta que só depois do fim da guerra é que se criaram as condições para o lento desenvolvimento de mercados de capitais. Explicaria de seguida que não lhe serviria de nada contratar gestores profissionais porque o preço que eles cobram não se adequa às necessidades que a empresa tem e que não vale muito a pena falar em produtividade enquanto a empresa não acumular capital e enquanto a população não estiver preparada para lidar com equipamentos sofisticados. Explicaria que não está nas suas mãos evitar a fuga de cérebros tendo em conta que as condições de mercado não exigem a contratação de pessoas com elevadas qualificações e elevados salários pelo que a sua cotratação seria um erro de gestão. Explicaria finalmente que o emprego feminino é essencialmente uma questão cultural fora do seu controlo.
Este exemplo de Angola tem uma função didáctica. Visa mostrar que numa economia não se pode avaliar a competência dos empresários com base em items que dependem das características gerais do mercado. A função de um gestor é maximizar o lucro da sua empresa com base nas condições gerais de mercado, muito dependentes do capital acumulado pela economia no passado. Isto são factores que os gestores não controlam, não podem controlar.
Toda esta questão está minada desde o princípio porque uma certa esquerda (Diário de Noticias, Daniel Oliveira , Vital Moreira) , não percebendo nada dos mecanismos do mercado, resolveu olhar maniqueisticamente para a competitividade inventando uma competição estúpida entre gestores privados e governantes. Ao contrário do que essa esquerda parece pensar, o mercado não é uma construção racionalista dos gestores. Os gestores gerem empresas de acordo com o mercado que existe, não mudam directamente o mercado. E o mercado evolui pela a acumulação progressiva de capital e pela competição entre empresas. É a acumulação progressiva de capital que leva as empresas a entrar em negócios cada vez mais sofisticados.
Mas as empresas só podem entrar em negócios cada vez mais sofisticados se o estado deixar. Se o estado for ineficiente, se cobrar impostos muito acima do que produz, se criar muitas barreiras ao desenvolvimento dos negócios, o resultado é um estado rico e um sector privado descapitalizado. É o que temos em Portugal. Acho ridículo, por exemplo, que o DN compare o investimento público em ciência e tecnologia com o investimento privado para concluir que o sector público é melhor. É que o investimento público em ciência e tecnologia é pago pelo sector privado via impostos. Percebe-se facilmente que não é lá muito justo comparar a performance de um sector público improdutivo que vive da cobrança de impostos com um sector privado produtivo que é continuamente descapitalizado pela cobrança de impostos.