Não há Tanques em Budapeste
Li e não gostei, pelas incorrecções factuais e de raciocionio, do texto do José Medeiros Ferreira publicado hoje no DN, "Não há tanques em Budapeste".
Há um desconhecimento, natural, da parte de JMF da realidade que o leva a tomar conclusões erradas. O pacote Gyurcsany, com excepção da redução de algumas subvenções do estado (p. ex. aos preços do gás), não é baseado em cortes nas prestações sociais mas sim em aumento de impostos ? brutais no caso dos pequenos empresários; e na racionalização dos funcionários públicos ? que representam cerca de 1/4 da população activa e cujo peso excessivo é por todos reconhecido. Do mesmo modo o discurso de protecção social não foi enxertado mas é programático porque uma importante base social do partido socialista hungaro é a população não activa ? não há partidos relevantes à esquerda dos socialistas. O raciocionio de JMF, baseado numa deriva liberal do PS hungaro, está completamente errado. É tudo uma questão de ciclo politico ? que começa agora e termina daqui a 4 anos.
Mas não são só erros factuais que me causam espécie no artigo. É enervante a manipulação feita pelo JMF para atingir os seus propósitos. As direitas social-nacionalistas não são fenomenos emergentes na Europa Central, são recorrentes. JMF sabe suficientemente de história para perceber que a sua radicalização resulta de momentos de crise económica e agitação social grave. Ora, o equilibrio orçamental, minora os efeitos das crises. JMF também é não é ingénuo e sabe que a manutenção do equilibrio económico não implica a redução das prestações sociais mas sim implica abdicar de uma certa ideia de "estado forte" ao serviço de clientelas e de uma classe politica que pretende manter a todo custo a sua relevância e status quo. A diminuição do estado é a unica solução para manter as reais e necessárias obrigações do Estado. Algo vai errado na social democracia europeia quando a lógica de poder se sobrepõe a tudo.
Daniel Marques
Budapeste - Hungria