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Assim, logo no primeiro parágrafo afirma-se:
O relatório sobre competitividade do Fórum Económico Mundial é uma vergonha para os gestores e empresários portugueses e um elogio às instituições públicas. Portugal desceu do 31.º lugar para o 34.º entre 125 países fundamentalmente por causa do mau funcionamento das instituições privadas. Afinal, a fraca imagem do País deve-se em grande parte ao sector privado.
Bastante definitivo, não? (Note-se que o problema é a imagem e não os factos em si) Helena Garrido deve ter provas para o que diz. Quais serão? A resposta parece vir logo no parágrafo seguinte:
O pior indicador de Portugal é o que está relacionado com o baixo crescimento e os défices público e externo.
Pera lá, isto do défice público deve ter a ver com o estado não? E se calhar os outros dois problemas estão directamente relacionados com o défice público. Por um lado, um país com défice público insustentável costuma ter que importar bens para satisfazer o consumo público e o consumo privado por ele induzido. Por outro, um país que teve durante muito tempo um défice público insustentável acabará por cair na crise económica porque esse défice induz actividades económicas insustentáveis. Pelo que se conclui que o pior indicador de Portugal afinal é da exclusiva responsabilidade do estado.
Mas Helena Garrido pensa que não:
O défice público, um dos problemas do País que podem ser directamente atribuídos aos governos, está em vias de resolução.
Como? Importa-se de repetir? O défice real nos últimos 5 anos esteve sempre acima dos 5%, o ano passado esteve acima dos 6%, este ano vai estar nos 4.6% e só em 2009, daqui a 3 anos, o défice estará nos 3%. Ora 3% não é um défice resolvido nem coisa que se pareça. Um défice resolvido é um défice médio de 0% ao longo do ciclo económico, o que nunca aconteceu em Portugal nos últimos 30 anos nem vai acontecer nos próximos 10. Acresce que o défice está a ser resolvido não por redução de despesa mas por aumento da receita canibalizando a economia privada. Ou seja, o pior para a economia nem é o défice mas a forma como esse défice terá que ser resolvido: por aumento de impostos.
O que leva Helena Garrido a descartar as responsabilidades do estado é a extrardinária crença na compartimentação económica. Helena Garrido acredita que o peso do estado na economia não limita o desenvolvimento da economia privada. Acredita que as empresas podem investir e desenvolver-se mesmo quando o estado lhes cobra impostos para pagar políticas insustentáveis, mesmo quando o estado através de défices públicos insustentáveis induz opções empresariais erradas e mesmo quando o estado impõe todo o tipo de barreriras e regulamentos irracionais.
E Helena Garrido continua:
Se a reestruturação do Estado for conseguida, o sector privado passa a ser o grande problema do País, aquele que contribui também para o fraco crescimento e o défice externo.
É uma frase extraordinária, tendo em conta a primeira frase deste editorial: "O relatório sobre competitividade do Fórum Económico Mundial é uma vergonha para os gestores e empresários portugueses e um elogio às instituições públicas." Afinal em que ficamos? O problema principal é a reestruturação do estado, que mal começou, ou é o sector privado? Helena Garrido volta a responsabilizar os privados pelo défice externo, o que demonstra um certo desconhecimento do funcionamento da economia de mercado. Um bom empresário não tem a missão patriótica de exportar para o estrangeiro. Limita-se a adequar a sua estratégia à procura, pelo que se o estado estiver a gastar acima das suas possibilidades tenderá a satisfazer a procura interna primeiro.
Um ponto interessante deste discurso de oposição ao empresariado é a pergunta que Helena Garrido faz:
Mas muitos de nós colocamos frequentemente a questão: porque são as empresas estrangeiras em Portugal competitivas e as nacionais não o conseguem ser?
Bem, deve ser um problema genético não? Ou então o mistério tem a ver com um processo de selecção: as empresas estrangeiras que se expandem para o estrangeiro são as melhores dos respectivos países. E são também empresas que, ao contrário das nossas, não foram esmifradas pelos respectivos governos. Mas nós até temos empresas competitivas. Os bancos, por exemplo. Poderiamos até ter mais se todas as empresas nacionais tivessem os mesmos incentivos fiscais que a Auto-Europa.
Helena Garrido ainda acrescenta:
Os gestores e empresários de Portugal têm urgentemente de olhar menos para o Estado e de tratar melhor dos seus negócios. Não será fácil. As fragilidades das instituições privadas reflectem a falta de formação em áreas hoje tão importantes como a economia e as finanças e uma atitude geral que se focaliza demasiado nos problemas e pouco nas soluções.
O quê? Falta de formação? Mas então em Portugal a educação e a formação profissional não são da competência do estado? O que é que Helena Garrido sugere? Que empresas que já pagam impostos para sustentar o ineficiente Ministério da Educação devam ainda usar fundos próprios para melhorar a formação dos seus empregados?