27.9.06

Insegurança Socrática

O discurso de Sócrates no parlamento está a demonstrar que o nosso primeiro não está muito preparado neste assunto.

1. Primeiro, explicou que o aumento de dívida pública para suprir as necessidades de fundos poriam em causa a sustentabilidade do estado português e o perigo de alteração do rating. A sustentabilidade do estado português já está em causa porque a dívida do estado aos futuros pensionistas já existe, não estando apenas escriturada. As agências de rating não costumam ser ceguinhas, nestas coisas. Num caso, há dívida não escriturada. No outro caso há dívida escriturada e coberta por fundos de pensões. (Não sei porque é que os próprios fundos de pensões não podem ser financiados directamente por dívida pública, até porque os fundos de pensões são importantes subscritores de emissões do estado. Na fase de transição teriam uma rentabilidade inferior. À medida que os pagamentos ao abrigo da parte não capitalizada fossem diminundo, a dívida iria sendo amortizada.)

2. Comparou a rentabilidade dos fundos de pensões desde 1990 (5,5%) com o aumento médio das contribuições para o sistema público, que foi superior a 6%. Não só uma coisa nada tem a ver com outra, como o argumento só pode funcionar a favor da proposta do PSD. Num caso compara rentabilidades. Num outro compara capitais. Num caso, cria-se valor. No outro, aumentam impostos. Fez a comparação duas três vezes.

3. Sócrates pensa que os fundos de pensões são investidos integralmente na Bolsa. Não tem a menor noção de como se gere um fundo de pensões. Além disso, sugeriu que um fundo de capitalização daria origem a uma pensão 60% inferior às do método actual. Se assim fosse, o método actual só poderia levar à tragédia, porque significaria que o aumento de impostos teria que ser 60% superior à soma dos montante dos descontos actuais com os ganhos da capitalização, algo que é, obviamente, insustentável.

4. Explicou que os mercados sobem e descem e que por isso não há segurança nos fundos de pensões. Se, por acaso, os fundos de pensões não valorizassem ao fim de 36 anos, imagine-se só em que estado lastimável estaria a economia e as finanças públicas para fazer face às obrigações assumidas.

Sócrates parece estar muito mal assessorado neste tema.