De repente surge como uma necessidade imperiosa acautelar os problemas resultantes do mau jornalismo e dos atropelos à deontologia. Vital Moreira no seu blogue fala em “décadas de impunidade deontológica” e Arons de Carvalho, no semanário “Expresso”, conclui que “a violação das regras deontológicas não pode continuar impune”.
Perante tal veemência cabe perguntar em primeiro lugar: onde é que estão os crimes graves praticados pelos jornalistas em Portugal? Onde é que estão essas faltas tão graves contra a deontologia? E sobretudo o que pode levar a que se queira julgar mais expeditamente um crime praticado por um jornalista no exercício da sua profissão do que uma falência fraudulenta ou um assalto? ###
O poder político sente-se a salvo dos crimes que lesam as pessoas comuns mas nessa bolha que construiu para si mesmo toda e qualquer palavra menos concordante com a realidade oficial não só é vista como uma ameaça como ganha dimensões paranóicas. O que distingue o governo de Sócrates não é o procurar intervir na comunicação social. O que há de novo é a convicção por parte do governo de que pode não resistir a uma imprensa livre ou “desregulada”.
José Sócrates fez-se líder nos estúdios da RTP e não nos comícios ou nas campanhas de rua. A sua noção de povo é a dos figurantes dos estúdios televisivos. E por isso, perante as manifestações populares, Sócrates reagiu inicialmente com o constrangimento dum realizador que detecta uma falha no guião. Em seguida optou, como fez na inauguração da ponte da Lezíria, por eliminar a cena. Por agora acredita que, tal como nos estúdios de televisão, também na vida basta focar mais aqui e tirar a luz acolá para que outra realidade aconteça. O nosso primeiro-ministro nasceu politicamente no meio dos cenários e não quer sair de lá.
*PÚBLICO, 9 de Julho