Um dos meus cronistas favoritos, leitor fervoroso e compulsivo deste vosso blogue, dedica hoje a sua prosa no Público, ao nosso João Miranda. Implicitamente, claro, que referências explícitas para nós, quase nunca existem.
Recomenda ele, aos que andam a discutir o poder dos mercados sem perceber nada do assunto, a leitura de algumas obras de referência que nos poderiam trazer valiosos ensinamentos sobre o funcionamento do mundo. António Vilarigues intitula a sua crónica de hoje, O Atrevimento da Ignorância.
O diagnóstico do consultor é que andamos todos a ler os livros errados. Para fugirmos ao véu de incultura que nos cobre e nos reorientemos no caminho da verdade a que temos direito, aponta-nos outras leituras. E as obras recomendadas pelo informático foram escritas por autores tão considerados e tão sapientes no campo económico como Marx e Lenine. Uau.
O digníssimo consultor informático recomenda-nos que abandonemos a pseudo-ciência económica actual e nos refugiemos nos verdadeiros sabedores, naqueles que professaram teorias económicas verdadeiramente alternativas. Pede-nos o homem dos computadores que continuemos a acreditar naqueles que inspiraram dezenas de experiências sociológicas, todas elas, sem excepção, com resultados bem conhecidos e sempre replicáveis. Pede-nos ele que não desdenhemos uma ciência que, à partida, desconhecemos.
O que nos sugere é que desvalorizemos o empirismo relativista dos resultados e nos agarremos às estimativas daqueles bons pensadores. O que nos ensina Vilarigues é que não interessa que a probabilidade de acerto das teorias subscritas pelos escribas idolatrados se aproxime de zero com base em observações no terreno, porque se os resultados não batem certo com as expectativas, o erro só pode ser dos observadores. Ignoremos as consequências de dezenas de tentativas de pôr a coisa a funcionar e façamos de conta que aquilo até bate certo. Pede-nos uma rasteira à memória. Dêem-lhes mais uma hipótese. Vá lá, só mais uma.
Diga-se que o título da crónica não podia ter sido mais bem escolhido. O que Vilarigues quer é que sejamos, todos nós, mais uma vez, atrevidamente ignorantes.
