De tempos a tempos, sobe ao top de vendas um qualquer livro de um guru da esquerda mediática. E, quase sempre, não resisto a contribuir para o aumento do bem estar do autor e compro-lhe o best-seller. Um dos que habita as minhas estantes é Chomski. Outro é Ignatio Ramonet. Deste último, aprecio particularmente as permanentes previsões de queda iminente do capitalismo - vai para 20 anos que para o ano é que é.
Dentro desta biblioteca de esquerda, estão dois livros que venderam milhões e que contribuíram para um vergonhoso aumento de riqueza das autoras, que me deixam muito bem disposto, porque servem para definir patamares. Há quem ache que são o máximo.###
O primeiro destes livros chama-se “O Horror Económico” e é da autoria de Vivianne Forrester. É um livro que foi todo escrito com base numa premissa. A piada é que essa premissa é falsa. A autora acreditava que as pessoas vivem cada vez pior e que estamos mais pobres hoje do que estávamos há 100 ou 200 anos. O “Horror Económico” foi escrito na década de 90, nos anos em que o mundo mais enriquecia e que milhões de pessoas se livraram da miséria absoluta. O livro é uma denúncia desse mundo em empobrecimento.
Há uma certa coerência no erro da Vivianne. A autora quer que as políticas que conseguiram tirar milhões da pobreza sejam abandonadas em favor de outras que, sempre que foram aplicadas, espalharam a miséria. É compreensível. Se o diagnóstico está errado, a receita nunca pode ser certa.
A Vivianne também sofre de um problema matemático. Se somos 10 e entre todos temos 20, devemos distribuir 5 por cada um. Contas de somar e multiplicar são coisas complicadas e a matemática é uma arma dos capitalistas cuja utilização deve ser evitada a todo o custo. A autora pensa que os mercados são uma conspiração de alguns milionários para sugar os pobres e os excluídos. Não faz a menor ideia do que são e para que servem os instrumentos financeiros e acredita que os as coberturas de riscos são "economia de casino". Para ela, a economia é um jogo de soma nula ou de soma negativa.
O pior é que, apesar de ter escrito um livro inteiro a explicar o empobrecimento dos que enriqueceram e a exigir o fim do capitalismo, não apresenta nenhuma alternativa. Não faz a menor ideia. Apenas quer que não seja como é mas não tem nada para substituir. Vendeu centenas de milhares de livros e obteve com a obra um vergonhoso lucro capitalista.
Outro grande livro de referência do género deste último é o No Logo, da canadiana Noami Klein. Recebeu o subtítulo "A Tirania das Marcas num Planeta Vendido". Este dedica-se às Grandes Corporações. Naomi acha que as marcas são um horror. O mundo dos negócios é uma máfia e as administrações das empresas são um bando de delinquentes que usam uma terrível ferramenta, o marketing, para corromper as nossas criancinhas, os trabalhadores e os palermas dos consumidores. Claro que não se esquece da críticar aos investimentos das multinacionais no extremo-oriente, ignorando as centenas de milhões de chineses, indianos, malaios, filipinos, coreanos e taiwaneses que se livraram da miséria absoluta nos últimos 20 anos devido a esses investimentos. O livro de Naomi Klein foi publicado por uma multinacional, a autora tornou-se um símbolo da luta anti-globalização e enriqueceu.
A Naomi tem um novo livro e demonstra ter compreendido como ninguém as técnicas de enriquecimento pessoal. O livro chama-se The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism. O conteúdo do livro não deve ser muito diferente do último, a julgar pelas críticas, mas a estratégia do lançamento deste novo Naomi é um exemplo da arte de bem fazer promoção e marketing para exponenciar os lucros. Com a ajuda de dezenas de jornais e televisões, a promoção é quase gratuita. Vejam o exemplo do Guardian. Aprendam com a Naomi como ganhar milhões e ser uma boa capitalista.