A mesma ideia numa situação diferente. Considere-se que numa corrida de 10 mil metros há dois tipos de atletas:
a) solitários que não ligam nenhuma aos concorrentes e correm ao seu próprio ritmo;
b) invejosos que correm na frente do pelotão a marcar a concorrência.
Para optimizar as suas possibilidades de ganhar, os solitários têm que acertar no ritmo óptimo adequado às condições climatéricas, às qualidades dos concorrentes e ao decorrer da corrida. Os invejosos não têm que se preocupar com o ritmo. Têm apenas que se preocupar com o momento certo para sprintar.
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Saber qual é o melhor ritmo de corrida é informação, muita da qual só é revelada ao longo da corrida. Os invejosos têm uma estratégia melhor de adquirir informação. Usam os concorrentes para aferir qual é o ritmo certo e partem do princípio que, até ver, o melhor ritmo é o dos restantes corredores.
Para ganharem a corrida, os solitários têm que ser muito melhores do que os invejosos. Têm que acertar no ritmo certo sem qualquer input vindo dos restantes concorrentes e têm que ser capazes de impôr a si próprios esse ritmo*. Os solitários terão ainda que lidar com a inveja dos restantes corredores. Os invejosos não deixarão nenhum solitário isolar-se na frente da corrida excepto se não o conseguirem fazer ou se for previsível que o solitário não aguentará o seu próprio ritmo.
Note-se que o que interessa aqui é ganhar a corrida e não fazer um bom tempo (a diferença entre um Carlos Lopes e um Fernando Mamede). Note-se ainda que, se o objectivo é ganhar a corrida então a melhor estimativa do ritmo óptimo é o actual ritmo da corrida. Note-se, finalmente, que a vida real é mais complexa que uma corrida de 10 mil metros pelo que a incerteza sobre o ritmo óptimo de corrida é maior na vida real do que numa corrida.
*Para além de que enfrentam maior resistência do ar.