Fui coagido a comprar uma. Não sei se é do formato 'bomboca' das pastilhas de café, mas ainda não vi mulher alguma que não se desfizesse em suspiros de ansiedade consumista diante desta invenção da Nestlé.A loja parecia uma ourivesaria. Meninas fardadas que andavam em bicos de pés, 'bombocas' coloridas por todo lado, as máquinas expostas como se fossem a última obra de um grande relojoeiro. Fiz perguntas. De imediato comecei a ficar levemente irritado com o tom afectado das explicações - parecia que se estavam ali a tratar de recônditos segredos do Universo e não de máquinas de café. Cada vez mais forçado, pedi preços: inundaram-me com uma amálgama de hipóteses e sub-hipóteses que me confundiram completamente. E irritaram-me mais. Sentindo-me o último dos pacóvios dirigi-me ao balcão pejado de teclados de computadores e fiz a compra. Aí, o ar pomposo da loja caiu por terra: «não temos multibanco nem Visa». Ironizei o mais que pude e paguei. Mas o fiasco não ficou por aqui: «não lhe podemos dar o recibo porque o sistema informático foi abaixo», disse-me uma carinha sorridente, «mas irá para a sua morada brevemente». Começava seriamente a pensar em engrossar o tom da coisa.
Depois, pediram-me os dados. Pessoais e outros. «Para quê?», perguntei. «Passará a fazer parte da nossa família, o Clube Nespresso». Assegurei à minha interlocutora que o único clube que me interessava pertencer era o FCP - e já sou membro dessa gloriosa comunidade há 30 anos. «Mas só poderá efectuar as compras do café se integrar o nosso Clube», informaram-me. Quê? «Então não posso comprar o maldito café sem pertencer a essa espécie de seita?», disse, deliciando-me antecipadamente com a polémica em perspectiva. Mas não estava sozinho. Mais: este era um dos muitos assuntos onde a minha vontade em implicar era completamente irrelevante para quem detém o verdadeiro poder de decisão política, i.e. a minha mulher. Rosnando desconsiderações várias para com o ambiente em redor, lá terminei a função e fui beber um cimbalino ao café de sempre, servido como sempre e acompanhado com a conversa de sempre.