Há seis anos fazia parte de uma Associação de Amizade Portugal - Tibete e ajudei a preparar a primeira visita de Dalai Lama.
Existia alguma tensão entre aqueles, como eu, que estavam nessa Associação por razões de cidadania e de defesa dos direitos humanos e os que tinham uma visão religiosa da questão e do visitante. Nessa disputa verifiquei as minhas irremediáveis dificuldades com a lógica do multiculturalismo.
Na véspera da visita exibiram um filme de alguém que tinha ido a Dharmsala. Um excesso panegírico, como convinha, mas com uma cena que não mais esquecerei: as pessoas que visitavam Dalai Lama jorravam-se aos seus pés. Algumas até beijavam devotamente os ditos. Senti-me agoniado. Bem sei que a nossa ordem civilizacional é diferente mas um homem arrastando-se pelo chão é o mesmo em todo o lado.
Após a visita deixei a Associação.
* Publicado no Correio da Manhã