22.12.07

Os crimes do Porto * (ou a polícia que sabe o que é preciso)

Contaram-me que um dono de uma loja chinesa, farto de ser assaltado por adolescentes que actuam na maior impunidade, impediu um deles de fugir com artigos roubados. Saltaram-lhe em cima mais de uma dezena de patifes. Mas nem assim o comerciante largou os seus pertences. Foi arrastado para o meio da rua e pontapeado. Os transeuntes gritavam e alguns arranjaram coragem para intervir, conseguindo, a custo, que os agressores se fossem embora.
Instantes depois chegou a ambulância do INEM – a polícia, avisada ao mesmo tempo, entendeu aparecer cerca de 45 minutos mais tarde. Deviam estar muito ocupados.
E estavam: tal como no ano passado, nas imediações do maior centro comercial do Porto, a PSP, com diligência diária, fazia uma utilíssima operação Stop. O trânsito natalício ficou ainda mais insuportável mas, sem dúvida, a luta contra o crime recebeu um nobre impulso.


* Publicado no Correio da Manhã

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20.12.06
De meter nojo!


O trânsito estava insuportável e ainda nem sequer tinha chegado a hora de ponta. Filas intermináveis, buzinadelas nervosas, gestos irados dos condutores - enfim, um pouco a (a)normalidade que perfaz o chamado "espírito natalício" do nosso tempo. Desesperado procurava a melhor maneira de escapar à congestionada fatalidade desta época infernal. Mesmo assim, a intensidade do trânsito parecia-me excessiva. Quando, finalmente, consegui chegar à rotunda "dos produtos estrela", agora oficialmente baptizada de "AEP", percebi a causa imediata daquele reboliço - a nossa inestimável força de autoridade não encontrou melhor local e momento para fazer uma "Operação stop" do que uma rotunda especialmente açoitada pelo trânsito mesmo ao lado de um hipermercado e do maior centro comercial a norte de Lisboa e, claro, a escassos dias do Natal. Brilhante!
Aquelas cabeças especialmente privilegiadas que tanto porfiam pela segurança de todos nós devem ter imaginado que a esmagadora maioria dos meliantes se iria concentrar nas imediações dos centros comerciais para aí conspirar concertada e "nataciliamente" os seus crimes.
Entretanto, as pessoas normais, que não são polícias nem ladrões, têm de aturar os incompetentes desmandos (estou mesmo a ver o sobrolho franzido e a bigodaça a transbordar de poderes públicos de um GNR que ordenava paragem a uma senhora aparentemente desalentada num monovolume carregado de crianças e de presentes) de uma autoridade cujo único propósito parece ser incomodar inconsequentemente tudo e todos e que nunca percebeu que enquanto actuar assim só merece o desprezo dos cidadãos.