Um dos sinais de esgotamento de um sistema político dá-se quando as condutas dos seus protagonistas se tornam miméticas. A noção geral é de que tanto faz que esteja lá ‘este’ ou ‘aquele’ porque vai tudo dar ao mesmo: os políticos parecem apostados em imitarem-se com afã, repetindo as mesmas frases, gestos, tiques e promessas.
Os casos mais penosos são aqueles que anunciavam diferença mas que o poder depressa moldou, tornando-os iguais aos seus antecessores.
O presidente da Câmara do Porto é um dos exemplos mais plenos dessa metamorfose que o poder traz.
Em tempos que já lá vão, Rui Rio entendia que os poderes públicos deveriam pautar-se pela frugalidade nos gastos e nos modos. Desdenhava a exuberância vazia dos populistas.
O poder mudou-o. A árvore de Natal que plantou em frente ao seu gabinete comprova-o – são 2,40 milhões de luzes em 76 metros, o mesmo tamanho da Torre dos Clérigos. Essa simulação de Natal já esteve noutros lugares, dizem – a exibição daquela espécie de menir autárquico mostra que o poder, a quem o alcança, veste um uniforme mental feito de ‘mesmice’.
Os que lá estavam antes preferiam a lógica do jorro colorido dos foguetes que logo se dissipavam – deve ter sido essa inclinação energética de Fernando Gomes que lhe conferiu alguma aptidão para dirigir a Galp, não sei.
Agora, o resto daquilo que Rui Rio já foi escolhe um obelisco engalanado para se representar. O resultado não é muito distinto.
* Heresias, no Correio da Manhã de domingo