17.12.07

Westuga

No dia de assinatura do Tratado Reformador foi lançada pelo governo uma campanha de propaganda a nível interno, pretendendo criar uma «nova imagem» de Portugal assente no conceito de «Portugal, Europe's west coast».
Já há muito que não existia tal coordenação entre eventos políticos e propagação de mensagem política pelo Estado. Porque raio um governo há-de gastar dinheiro a tentar «melhorar a imagem» dos portugueses junto dos mesmos? Que um governo se atreva a gastar alguns milhões em propaganda política paga pelos contribuintes, potenciando acontecimentos realizados por si e com pretensões de conformação de imagem junto dos seus eleitores, é uma coisa verdadeiramente fascinante. Digno de figurar na história junto da «Campanha do trigo» ou da «Aldeia mais portuguesa de Portugal». Um verdadeiro «momento Chavez».
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A não perder, é a definição do conceito pelo seu criador, Pedro Bidarra, da BBDO (via), num chorrilho de pré-conceitos, qual deles o mais fantasioso:

«É que Europe's West Coast trás consigo todo um imaginário relacionado com a West Coast americana, compatível com as percepções boas do Sul. A praia, a vida colorida, o surf, as esplanadas, a tolerância e os estilos de vida alternativos, o tempo ameno, o sol que se põe no mar, o golf. Na Europe's West Coast os benefícios do Sul já vêm incluídos mas o conceito traz mais. Traz associações "aspiracionais" - Hollywood ou Silicon Valley, por exemplo - que sem nada termos que fazer contaminam o conceito positivamente, tornando-o mais glamouroso e mais cosmopolita. Depois há as pontes e colinas de Lisboa e S. Francisco, o Vale do Douro e o Napa Valley, a aridez da Baja Californiana e o nosso Alentejo, coincidências felizes que é só aproveitar.

O West é também um lugar mítico, um lugar de sonhos onde a terra "desagua" no mar, para onde se vai mudar de vida. Por fim, de um ponto de vista político, o West tem sido sinónimo de desenvolvimento e democracia. Ao sermos West beneficiamos destas associações e saímos do Sul.

Mas o conceito tem outro ângulo que o torna mais poderoso: Europe. Não somos uma West Coast qualquer, uma West Coast de imitação: somos a Europe's West Coast. Faz acreditar que todas estas associações são temperadas com história, civilização, "cachê". A mesma história e civilização que ajudámos a construir saindo para... West.

Ao reposicionar Portugal como a Europe's West Coast criamos para europeus e americanos um novo lugar no mundo, uma nova e desconhecida realidade que é o novo Portugal. E criar uma boa novidade é sempre boa estratégia de marketing. Uma novidade que ajudará europeus a fazer outra ideia de Portugal e americanos a descobrir, não o velho West, mas o velhíssimo West que é o da Europa e que eles nem sabiam existir.»

a bem da nação