26.4.06

A propósito de CHernobyl

O acidente de Chernobyl e sobretudo o estado de total incúria a que estavam votadas muitas das centrais nucleares dos países socialistas chama a atenção para um dado indissociável do nuclear: estamos perante uma tecnologia que não gera apenas energia. Ela exponencia os defeitos e os vícios dos regimes. Não por acaso os acidentes mais graves e as centrais de maior risco estavam nos países comunistas. SEm liberdade não há segurança. Aliás uma das questões que se deve colocar em relação ao Irão e à Coreia do Norte é precisamente o dos riscos a que aquelas populações estão a ser expostas tanto mais que as tecnologias a que esses países têm acesso são muito rudimentares.

Sendo certo que o modo de funcionamento das centrais é hoje muito mais seguro do que era há 20 ou 30 anos é verdade também que essa segurança não resulta apenas das técnicas usadas. Depende sobretudo da existência duma sociedade democrática, com uma sociedade civil forte e habituada a envolver-se em causas públicas, liberdade de opinião, jornalismo de investigação e estabilidade política.

Uma central nuclear implica também um compromisso com o futuro: os resíduos têm de ser tratados, guardados e monitorizados durante séculos. Aliás o acondicionamento dos resíduos é uma das operações mais sensíveis do ciclo nuclear e quando falha pode gerar acidentes gravissimos. O acidente de 1957 na URSS - provavelmente mais grave que Chernobyl - deveu-se a uma falha na refrigeração dos tanques dos resíduos.

Construir uma central nuclear não é o mesmo que fazer a Casa da Música ou a barragem de Alqueva. Duas obras que espelham todos defeitos de Portugal mas que como não têm reactores dentro nem geram detritos radioactivos vamos sustentando até quando calhar.