18.8.04

O natural, o artificial e o espontâneo XIII

Notas de resposta ao Jorge:

1. Eu não defendi que o que é natural é bom. O que eu defendi é que há coisas que surgem de forma espontânea e que não são de deitar fora. E que um tipo específico de interferência na sociedade tende a causar problemas maiores que aqueles que tenta resolver. Há aqui uma grande diferença.

2. A atitude racionalista pressupõe que a sociedade pode ser melhorada pela razão. Só que, vezes sem conta, os racionalistas substimam as qualidades daquilo que sobreviveu ao teste do tempo. Antes de tentarem mudar a sociedade, os racionalistas deviam primeiro descobrir como ela funciona.

3. Os processos de selecção natural/cultural seleccionam aquilo que é adequado para uma determinada circunstância. Nem sempre aquilo que é o mais adequado é o mais complexo. A simplicidade também tem as suas vantagens competitivas.

4. O Jorge tenta determinar aquilo que pode ou não pode ser bem sucedido por um processo racional. Infelizmente, aquilo que é ou não adequado a uma determinada circunstância não pode ser determinado a priori pela razão. Se isso fosse possível não existiam companhias de seguros nem bolsas de valores.

5. Sucesso sexual não implica sucesso reprodutivo. É o sucesso reprodutivo, e não o sexual, que determina que genes e que memes são transmitidos às gerações seguintes.

6. Do que o Jorge diz conclui-se que os falantes das línguas que favorecem a cooperação sobrevivem aos outros. É a existência de uma língua que favorece a cooperação, não é a cooperação intencional que faz a língua.

7. Existe uma grande diferença entre o estado moderno e um bando de caçadores-recolectores. Este é um dos grandes erros dos racionalistas. Os racionalistas tendem a ver as sociedades modernas como uma aldeia. Acontece que os esforços de milhões não podem ser coordenados da mesma forma que os esforços de dezenas. Dezenas de pessoas podem ser organizadas por uma entidade central. Mas milhões de pessoas não podem.