11.8.04

O serviço público das empresas públicas (II)

O CAA escreveu esta posta indignado (muito legitimamente, diga-se!) por questões "futeboleiras", mas levantou um problema bem mais importante e de impacto mais profundo junto dos cidadãos residentes na metade Norte do País: a qualidade do serviço de transporte aéreo que (não) têm.

Esta situação não é de agora e começou há cerca de 4/5 anos quando a TAP terminou com os voos directos que operava entre o Porto e o Brasil, servindo diariamente os mercados de S. Paulo e Rio de Janeiro e, numa base julgo que tri-semanal, o de Salvador. Posteriormente, foram sendo descontinuadas várias rotas para a Europa, a tal ponto que hoje, cidades como Barcelona, Bruxelas, Frankfurt, Madrid, Milão ou Zurique, não são pura e simplesmente servidas pela TAP.

Recentemente houve um pequeno recuo naquela política, com o estabelecimento de acordos de "code-sharing" para alguns daqueles destinos com a Portugália e com a Ibéria, utilizando aviões destas companhias. Porém, o acordo com esta última será por certo revogado, tão logo a TAP efective a sua entrada na STAR, uma aliança concorrente da ONE WORLD, que integra a Ibéria.

O Porto não deixou no entanto de ter ligações directas com aquelas cidades, tendo a Portugália, a Air Luxor e as companhias estrangeiras vindo gradualmente a apropriar-se do mercado deixado disponível pela TAP. O caso mais paradigmático é o da rota Porto-Frankfurt, antes partilhada pela TAP e pela Lufthansa com um voo diário de cada companhia e que hoje é operada apenas pela Lufthansa com três voos diários. Se o consumidor ficou a ganhar na óptica da oferta e da diversificação de horários, poderá por outro lado vir a perder em termos de tarifas a manter-se esta situação de monopólio.

Em termos gerais, o consumidor nortenho viu degradados os níveis de serviço pela menor disponibilidade de voos directos e consequente necessidade de fazer escalas ou transbordos, geralmente em Lisboa. Diga-se que em muitos casos esta situação não decorre da inexistência de mercado, sendo o exemplo mais gritante o do tráfego regular para o Brasil (excluindo os picos turísticos do Verão) em que cerca de 60% dos passageiros são originários do Norte e Centro. Para além de se esquecer o mercado da Galiza, com algum potencial para as rotas do Brasil, mas principalmente para Caracas, rota que chegou a ser servida por voos diários non-stop e hoje está reduzida a um voo semanal.

Voltarei a este tema, analisando as razões da actual política da TAP relativamente ao aeroporto Francisco Sá Carneiro.