24.12.04

Demagogia e os Ciclos Económicos

A discussão política em Portugal está ao nível da conversa de café. Quando os argumentos sobre economia que prevalecem são os do Francisco Louçã e do Fernando Rosas algo está muito errado.

Nos últimos anos do Guterrismo a despesa do estado crescia na casa dos 8 ou 9%. Agora cresce na casa dos 2%. Dizer que nos últimos 3 anos nada foi feito para conter o défice é demagogia. É dizer que o congelamento dos salários da função pública, o grosso da despesa, não é uma medida necessária e eficaz. Curiosamente, são aqueles que foram contra o congelamento dos salários que agora criticam o governo por causa do défice.

Neste caso, o demagogo tem a vida facilitada. Como toda a gente acredita que o estado pode dirigir a economia e acabar com a crise, ninguém percebe que estamos a atravessar uma crise económica europeia e que as receitas do estado têm forçosamente que baixar. Não há nada que um governo possa fazer contra um ciclo económico. Isto significa que as medidas de combate ao défice podem estar a funcionar, apesar de o défice estar a aumentar. O que interessa é que o défice corrigido pelo ciclo económico baixe. Mas este é um detalhe que não interessa a ninguém. A demagogia funciona porque nem os pensadores mais dedicados se dão ao trabalho de investigar os detalhes.

Nos próximos tempos corremos o risco de pagar os custos desta demagogia. O próximo governo, seja ele qual for, fará um corte com o passado e dirá que tem a solução milagrosa para o défice e aproveitará o período de vacas gordas que aí vem para voltar a colocar o ritmo de aumento de despesa na casa dos 9%.