22.12.04

UM BENFICA DOS BONS VELHOS TEMPOS (à Estado Novo)

Já me tinham dito mas só há pouco vi o resumo: o jogo do Benfica com a Oliveirense (3ª divisão) para a Taça de Portugal foi uma forma dos adeptos encarnados matarem as suas muitas saudades com o estilo de jogo que se tornou lendário durante os anos do Estado Novo.
A receita é simples e funcionou durante décadas - quando o clube da Luz se vê em dificuldades o árbitro expulsa um jogador adversário sem sombra de motivo. Se coisa não chegar, inventa-se um penalty. Se mesmo assim não der, arranja-se um segundo. Se ainda não chegar, arranca-se um terceiro. Tudo o que for preciso - golos inexistentes, mais expulsões, 6 ou 7 penaltys, 18 minutos para além dos 90 regulamentares - para que o clube que se auto-qualifica dos "seis milhões" (serão sete? Oito? Oito e meio?) consiga vencer. Sem qualquer réstea de vergonha e desprezando completamente a verdade desportiva.

Foi um "dejá vu" dos tempos da falaciosa glória encarnada. Durante décadas os antepassados de Bruno Paixão fizeram os possíveis e os impossíveis para que o Benfica vencesse a todo o custo.
À custa de penaltys, expulsões, invenções e muitas espoliações, se foram ganhando títulos e forjando mitos que visavam a construção de um clube do Estado, com o ridículo nome de um bairro lisboeta, a que o Estado Novo quis dar dimensão nacional com foros de exclusividade.

Depois os tempos mudaram. O Benfica nunca se deu bem com as novas regras que implicavam concorrência entre iguais. A sua luta é sempre um esforço de voltar a conquistar os velhos privilégios a que julga ter direito natural. Sem sucesso.
Hoje, com um plantel de qualidade inferior, arrasta-se penosamente pelos relvados envolto numa névoa de queixumes e de fados excessivamente choradinhos, à espera do regresso sebástico dos favorecimentos arbitrais estabelecidos por política pública.

A Oliveirense milita na 3ª divisão (nem sequer está na 2ª B). Só no prolongamento se deixaram vencer pelo cansaço. Mas não mereciam perder assim. Foi uma viagem no tempo. A boçal ilusão de que o regresso ao passado ainda é possível.

Mas não é. O Estado Novo acabou. E no futebol há uma enorme excepção ao actual mimetismo decadente do Estado das Coorporações. E com essa excepção não há Bruno Paixão, nem mitos forjados, nem o sonambulismo de muitos, que a consigam domesticar.