Os níveis de imbecilidade televisiva nacional atingiram novos píncaros de glória, graças a um programa da SIC chamado «Comportamento... Zero», que hoje estreou no «prime time» daquela estação.
A coisa consiste na seguinte ideia: uma sala de aulas do ensino secundário, onde uns garotos imberbes e umas meninas pirosas se esforçam por dizer alarvidades a um professor de figura ridícula, visivelmente deprimido pelo brilhantismo profissional que alcançou. Pelo meio passam «apanhados» com cavalheiros nus da cintura para baixo sentados em sanitas expostas à saida do «Metro» e à risota dos transeuntes, e simulações de noticiários televisivos onde duas das jovens estrelas trocam falsas notícias como a de um autocarro que caíu da «Ponte sobre o Tejo», com vinte e cinco advogados. Uma lástima, já que, segundo o jovem «apresentador», a capacidade total do veículo seria de quarenta lugares. O ambiente geral é de grande galhofa na sala, de desrespeito absoluto pelo professor, a quem só resta fazer caretas e esgares de horror, enquanto vai arrancando os poucos cabelos da careca que ainda (por pouco tempo) lhe sobram.
O público alvo desta abjecção, presumindo que nenhum adulto em estado são a seguirá, é, obviamente, a canalha da mesma idade dos protagonistas, isto é, de nove, dez anos, que assim colhe um bom exemplo do que deve ser o seu comportamento escolar. Moralismos à parte, num país preocupado com o tabagismo, o excesso de velocidade e o azeite dos galheteiros, é salutar que coisas destas existam, passem na televisão e nos entrem casa dentro em canais abertos à hora do jantar.
Pela minha parte, o programa só teria a ganhar se terminasse com uma entrada intempestiva da directora da escola pela sala dentro, seguida de uma distribuição de estaladas pelos petizes (caramba, já não são prematuros) e do despedimento «in loco» do «mestre», sem inquérito prévio, nem processo disciplinar e nota de culpa. Assim, sim, era verdadeiro «serviço público».