4.1.05

"Mínimos (que serão máximos) obrigatórios"!

1 - O desconforto sentido (cada vez mais generalizadamente) relativamente à vida e ao sistema político vigentes, a inevitabilidade do "mais do mesmo", protagonizada pela ilusória alternância dentro do grande e consensual "arco partidário" do poder (PSD e PS), provoca, legitimamente, em algumas novas e pequenas forças partidárias que se situam nas margens de tal arco, a busca de "temas fracturantes".

2 - O perigo de toda esta estratégia de choque, de "fracturas", de reacção aos sinais (cada vez mais notórios) de apodrecimento do regime (fim da IIIª República?), é o de se confundirem "temas fracturantes" com "temas barulhentos"!
Bem vistas as coisas, nem tudo o que aparenta fazer barulho é, POLITICAMENTE, "fracturante", nem sequer, por vezes, relevante. Repito e sublinho: POLITICAMENTE (não que não seja muito relevante, importante e interessante noutras sedes do conhecimento, dos princípios de vida e de acção colectiva e/ou individual)....

3 - Claro está que toda a política (sobretudo, partidária) que se imiscua na esfera da moralidade e das opções (e responsabilidades)estritamente pessoais, filosóficas e/ou religiosas, tenderá a parecer "barulhenta"... desde logo, porque, para ser consequente, terá que pretender ser uma política impositiva e sendo impositiva, em matéria de moralidade e de religião, então, extravasará os limites do que deve cuidar a política (a res publica).
Há coisas que, naturalmente, não têm que ser objecto de lutas político-partidárias. Há "vida" para além dos partidos políticos (por muito estranho que isto possa parecer aos ditos, principalmente, aos respectivos "aparelhos").

4 - Em síntese:"A Deus o que é de Deus; a César o que é de César".
Parece ter sido este o entendimento dos candidatos do PND, pelo Porto:

"O Partido da Nova Democracia (PND) não vai incluir nos "mínimos obrigatórios" a defender por eventuais deputados eleitos à Assembleia da República (AR) a questão do aborto nem nenhum outro tema considerado "fracturante". A garantia foi dada ontem ao COMÉRCIO pelo cabeça-de-lista do partido pelo Porto, João Almeida Garrett, num dos intervalos da reunião da direcção para preparar as eleições.
Na origem da discórdia esteve a propalada inclusão no documento que vai ditar a obediência de eventuais deputados do PND a cerca de 10 príncipios mínimos de questões como a rejeição de qualquer qualquer tipo de interrupção da gravidez, rejeição do casamento entre homossexuais ou a rejeição da adopção por parte de pessoas que não sejam casadas. Ameida Garrett avisou que, a incluir essas premissas, em concreto a do aborto, o PND/Porto não assinaria o documento".