16.1.05

O Princípio da Não Escolha

Helena Matos, no Público:

O princípio da não escolha é fundamental para que se mantenha o dogma da igualdade. Neste mundo todos são iguais a todos: os bons professores ganham o mesmo que os maus. Os funcionários administrativos empenhados são tão valorizados ou depreciados quanto o mais absentista ou corrupto dos seus colegas. Os bons alunos não são estimulados para não se fazer sobressair a ignorância ou o desinteresse alheios. Ao dogma da igualdade e ao medo da escola em ser avaliada se deve que o sistema de ensino, em Portugal, se tenha transformado numa máquina de formatação de medíocres com a mania que são vítimas.

(...)

Os serviços públicos, de que as escolas são o expoente, organizam-se numa espécie de auto-gestão em proveito próprio que seria perfeitamente legítima caso os ditos serviços se auto-sustentassem. Mas isso não acontece - embora se faça de conta que sim. Para tal instituiu-se a ficção da gratituidade. Gratuito é o termo que, certamente por ironia, se convencionou dar aos serviços pagos antecipadamente por todos nós. O mito da gratituidade tem uma linguagem própria. Neste universo ficcionado do gratuito não se usa o termo dinheiro, mas sim verba. Quando o dinheiro dos nossos impostos se transfigura em verba todos os desmandos são possíveis desde que legitimados pela tese da gratituidade ou ungidos pelo princípio da solidariedade. A verba está sempre em falta. A solução para qualquer problema passa sempre pela multiplicação das despesas, não pela resolução do problema.