10.1.05

Tsunami, razão e emoção

Caro Bruno,

A ideia de que o estado deve ter como função proteger os cidadãos de desastres naturais é em si um projecto racionalista. E como tal é bom que qualquer acção nesse sentido esteja racionalmente fundamentada. Pior que um projecto racionalista é um projecto racionalista mal fundamentado. Eu não levei o meu esforço para pensar racionalmente a um ponto extremo. Só há uma forma de pensar racionalmente, todas as outras são formas de pensar irracionalmente e custam vidas.

O Bruno diz que «Um sistema de alerta contra maremotos é muito barato, sobretudo tendo em conta os enormes custos humanos e materiais que provoca.» Mas essa é a forma errada de pensar. O Bruno não pode ter em conta os custos humanos e materiais que os maremotos provocam sem os comparar com outras ameaças. Ao fazê-lo, o Bruno está a pensar emocionalmente, e alguém acabará por morrer por isso. Os maremotos são eventos raros que causam grandes tragédias e grande comoção emocional e por isso mesmo tendem a ser sobrevalorizados quando ocorrem e subvalorizados quando não ocorrem. Se o Bruno quer mesmo salvar vidas terá que pensar racionalmente e ter em conta:

- os custos anuais dos maremotos
- o número de vidas que um sistema de alertas pode salvar por ano
- o número de vidas que o mesmo investimento pode salvar por ano se for aplicado noutra área (por exemplo: protecção contra monções, doenças infecciosas, mortalidade infantil).