«- Vai lá fora comprar o "Comércio" - dizia-me a voz de meu pai. E eu ia. Antes de lho levar, o meu olhar perdia-se nos títulos, agarrava-se às notícias. Ficava absorto, lia tudo. Quando, finalmente, chegava com o jornal encontrava o meu pai zangado e impaciente.
- O que ficaste a fazer? A ler, respondia. O meu pai sorria - Está bem.
O "Comércio" foi o meu primeiro jornal de todos os dias. Mais tarde, ao sair para o liceu de manhãzinha, aproveitava a generosidade da "assinatura" de um vizinho e ficava sentado nas escadas do meu prédio a devorá-lo. Foi no "Comércio" que acompanhei grande parte do PREC. Foi no "Comércio" que me habituei a ler análises políticas. Foi no "Comércio" que comecei a vibrar com as crónicas desportivas, com a descrição das exibições do Oliveira e dos golos de Gomes.
Anos depois, tive a honra de ser convidado para escrever nas páginas do meu primeiro jornal. Com muito gosto, fi-lo durante quase três anos.
"O Comércio do Porto" é o jornal que melhor representa o espírito singular que o Porto tem. Curiosamente, julgo perceber uma relação de simetria entre a importância do jornal e a da região em que se insere - se o Porto está bem, o "Comércio" também está; se o Porto perde importância, o "Comércio" entra em crise.»
(Carlos de Abreu Amorim 15.03.04)