26.7.05

Portugalidades....

A notícia não é surpreendente. Nem sequer o seu sentido é original, excepção feita ao facto de agora e em particular, dizer respeito ao sector das telecomunicações (telefones e internet). Portugal é realmente um país caro; dos mais caros da Europa comunitária.

Conclusões deste género, fruto das mais diversas comparações, podemos encontrá-las relativamente aos mais váriados tipos de bens ou serviços.

As coisas já não são, porém, assim no que respeita ao nível dos salários/rendimentos médios dos portugueses. Neste ponto, sem sermos miseráveis, de um modo geral, contudo, o que ganhamos é significativamente menos (em média ) do que recebem os cidadãos de outros Estados-membros (pelo menos, na "Europa dos quinze").

Ora, o que é surpreendente é que, neste país, com um nível salarial muito baixo e com preços que, de um modo geral, são muito altos (note-se, mesmo em termos absolutos - como agora se vê, no que diz respeito ás telecomunicações), o Estado continue a ter margem de manobra para consumir mais de 50% do P.I.B. O que é surpreendente, em Portugal, é que o Estado continue a impôr periodicamente aumentos da carga tributária que serão tanto maiores quanto mais entrarmos em comparação com aquilo que são os rendimentos efectivos dos portugueses.
O que surpreende, neste país, é que impunemente, enquanto se esquece da sua qualidade de devedor crónico face a muitos contribuintes (por exemplo, em sede de reembolso de I.V.A. ou relativamente a muitas e variadas situações de créditos fiscais), o Estado, esse mesmo Estado "devedor-crónico" e mau pagador, fixe o I.V.A. em 21% (a 2ª taxa mais elevada da Europa comunitária, logo atrás da Dinamarca, com 23%). Etc., etc., etc.

E o que surpreende, no meio de tudo isto, é que ninguém se revolte, se insurja, tente, pelo menos, um tímido "grito do Ipiranga" contra esse nosso "sócio forçado" que não só nos vai directa (e indirectamente) aos bolsos, como nos atafulha de teias de burocracia, nos dificulta a vida sempre que se nos atravessa no caminho (e são muitas as vezes em que isso acontece!) ou mesmo quando dele, legitimamente, precisamos.

Se uma das razões - talvez a principal - apontada para a existência dos preços excessivamente elevados praticados em Portugal, é a falta de concorrência efectiva (nos mercados, mas também de uma denominada "cultura concorrencial") - v.g., o caso Telecom - então, o caso português só terá uma saída quando o Estado "sentir" concorrencia.

Directamente, isso só será possível com uma forte pressão dos cidadãos; com um permanente escrutínio dos cidadãos ao (seu) Estado - que vai muito para além do acto de votar ou de não votar!
Se queremos mudar alguma coisa e já que não podemos escolher, num hipotético "mercado de Estados", qual o que mais nos convém, então, temos que reagir (nem que seja indo fazer compras, massivamente, a Espanha ou a outro lado qualquer!). Temos que mostrar que não somos parvos (.....ou será que somos?!).