Pedro Mexia acusa aqui (via A Arte da Fuga e Insurgente) os liberais de serem racionais («o que lhes ouço e leio é tão absolutamente racional»). É como acusar o Zidane de ser bom de bola ou os bancos de terem lucros «excessivos». Este ensaio do Oakeshott também é absolutamente racional. Não há problema nenhum nisso. Há é que distinguir o uso da razão como meio para chegar à verdade numa discussão pública da confiança ilimitada na razão como meio para governar a sociedade. Não existe outra forma de discutir política para além daquela em que as diversas políticas são avaliadas racionalmente (com gráficos, se necessário). E só através do uso da razão (e de gráficos) é que é possível mostrar a inutilidade e os efeitos contraproducentes das medidas preconizadas pelo racionalismo político. A alternativa ao uso da razão na discussão política é o irracionalismo e não o anti-racionalismo conservador.
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Um exemplo de uma posição racionalista em política é a defesa do financiamente da cultura pelo estado. Essa posição pressupõe que os burocratas conseguem usar a razão para dirigir culturalmente uma sociedade inteira fazendo dessa forma escolhas culturais melhores que o conjunto dos individuos faria com os mesmos recursos. Ora, perante isto um liberal o que faz? Apela ao irracionalismo? Claro que não. Um liberal argumenta, recorrendo à razão (e a gráficos), para mostrar que tal dirigismo cultural está condenado ao fracasso porque os burocratas sabem menos e serão menos racionais que os individuos dispersos pela sociedade. Neste caso a posição liberal é perfeitamente compatível com o antio-racionalismo conservador de Oakeshott. A posição daqueles que defendem que o estado deve financiar a cultura é que não é.