20.9.06

Evolucionismo vs. Criacionismo: o estado do debate II

A importância da filosofia

A Science de há 2 semanas tem dois artigos que reportam trabalhos em que não foi realizada nenhuma experiência ou medição. Isto devia fazer tocar as campaínhas de alarme de alguns dos nossos leitores que pelos vistos são empiristas puros. Afinal há quem faça longas carreiras em investigação científica sem nunca lidar com dados experimentais. Como é que isso é possível?

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É possível porque, enquanto a investigação científica puramente empírica é impossível, a investigação científica puramente racionalista é possível. A ciência tal qual se faz é uma síntese de uma abordagem empírica com uma abordagem racionalista.

Não é possível conhecer o mundo exclusivamente com base em experiências porque as experiências por si só não dizem nada. É necessário um intelecto que dê sentido aos dados e que os relacione entre si.

Por outro lado, é possível saber mais sobre o mundo sem fazer experiências seguindo uma abordagem racionalista pura. Esta abordagem não permite determinar exactamente como o mundo é, mas permite determinar quais são os mundos possíveis. Saber que um determinado mundo é impossível contribui para aumentar o nosso conhecimento sobre o mundo que existe.

Esta distinção entre a abordagem empírica e a abordagem racionalista é importante para se compreender o estatudo da Teoria da Evolução. É impossível compreender a teoria da evolução sem primeiro se tentar perceber o que é que na teoria resulta de uma abordagem racionalista e o que é que na teoria resulta de uma abordagem empírica.

Acontece que a chave da Teoria da Evolução, o Princípio da Selecção Natural, é uma construção racionalista. É conhecimento que pode ser obtido sem uma única experiência e sem nenhum dado empírico. É para além disso conhecimento certo, válido em todos os mundos possíveis e não falsificável.

No caso da Teoria da Evolução o empirismo não serve para provar que o Princípio da Selecção Natural porque isso nós já sabemos a priori que é verdade. Servirá apenas para verificar se ocorreu evolução e se o Princípio da Selecção Natural é a melhor explicação para essa evolução. Não são necessárias experiências para provar que o Princípio da Selecção Natura está activo na natureza, embora possam ser necessárias experiências para provar que ele é um factor relevante.