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Alguns empregados da STCP param hoje durante algumas horas por causa de um plenário. O plenário é uma das últimas reminiscências do PREC que ainda subsistem no Portugal do século XXI. O plenário é uma festa. Uma quebra de rotina. A malta larga o trabalho e junta-se nas instalações da empresa para ouvir as prelecções dos sindicalistas de serviço. Estes vão falar mal da administração, dos governos, do pacote laboral e vão exigir mais uns milhares de euros para cada colega e/ou a reposição do poder de compra e/ou a reformulação dos planos de carreira e/ou subsídios vários e/ou a manutenção de acordos colectivos que protejam os medíocres e/ou mais algumas regalias que no conjunto se constituem quase sempre em enormes impossibilidades económicas mas que por vezes são bem sucedidas porque quem paga é quase sempre o contribuinte que não é tido nem achado na conversa.
Ninguém vai falar da razão de existir da STCP. Os clientes. O conjunto de cidadãos que querem adquirir um serviço chamado transporte e que, privados de concorrência e crentes na justiça dos preços fortemente subsidiados, ficaram novamente apeados por quebra de serviço no monopólio. Para os sindicalistas, um portuense sem transporte é uma irrelevância. Um pião no jogo. Para um sindicalista de empresa pública, raramente há clientes. Há utentes. Clientes são chatos, exigem. Utentes calam-se e deviam ser obrigados a agradecer o serviço que os trabalhadores abnegados fazem o favor de lhes prestar, quando não há greve ou plenário. Os utentes são a parte aborrecida do emprego. Para um bom sindicalista, o core business destas empresas é servir os seus trabalhadores e proporcionar-lhes um salário. Os utentes são apenas um detalhe incómodo, uma aborrecida verticalização empresarial habitual no sector. ###
É por isso importantíssimo para os sindicalistas que os preços continuem a ser absolutamente subsidiados. Se as receitas dos SCTP tivessem origem exclusiva nos passageiros, as coisas podiam ficar negras, mas a realidade é outra. O verdadeiro cliente não são os passageiros. O cliente é quem paga pelo serviço. O grande cliente da STCP é a autarquia que paga sempre. Nada como uma boa greve para obrigar esse grande cliente inconsciente e aparentemente milionário a despejar mais dinheiro sobre a empresa, pressionado por esses milhares de utentes votantes lixados com os transtornos das paralisações.
Hoje, os trabalhadores da STCP borrifam-se novamente para os que deveriam ser clientes mas são apenas utentes. Se isto acontecesse na maior parte das empresas privadas, as portas fechavam. Em mercados abertos e concorrenciais, um cliente que bate com o nariz na porta é cliente que vai e não volta. É por isso que há poucas greves no sector privado. E é também por isso que não devem haver empresas públicas, nem monopólios. A força destes sindicalistas jurássicos que se estão nas tintas para o mercado que devia ser a razão da sua existência nasce justamente destas distorções. E a força que eles demonstram explica também parte das razões do atraso português.