Esta ideia de que o presidente da América é tão importante que devia ser sujeito a eleições mundiais revela uma certa imaturidade e talvez alguma impotência política. Afinal, é suposto cada comunidade política se auto-governar. É ainda suposto o governo de cada comunidade ter o dever de proteger os seus cidadãos das acções dos governantes das outras comunidades. Se os portugueses acham que devem votar no presidente dos EUA é porque sentem que quem tem a obrigação e a legitimidade de os defender em relação aos erros dos americanos tem andado a fazer um mau trabalho. Trata-se de uma declaração de falência das políticas externas de Portugal e da União Europeia. Esta atitude dos portugueses, este descrédito nos seus governantes, este apelo para entidades superiores (quase divinas*) fora do seu controlo, esta abdicação da autonomia política só pode ter uma resolução compatível com a realidade: a adesão de Portugal aos Estados Unidos da América.
* Note-se que Bush tomou nas sociedades laicas europeias o lugar de Deus. Não há catástrofe que não lhe possa ser atribuída.