26.11.06

dois maus sinais


Uma democracia trata bem os seus militares. Concede-lhes honras, dignidade e distinção. E trata bem não apenas os vivos - trata bem também os mortos para lembrar os vivos que, se eles morrerem em nome dos seus concidadãos, estes estarão cá para os relembrar.###

Os militares, tal como os polícias e os juizes, são o espelho de uma nação democrática e constitucional. E os militares, provavelmente, acima de todos porque, em última instância, a ordem democrática está nas mãos deles.

Porém, em Portugal, desde que os militares deixaram de ser necessários para fazer a guerra no ultramar e para implantar a democracia, instalou-se a opinião de que eles não servem para nada. E, segundo certa corrente de opinião, eles devem ser tratados como quaisquer funcionários públicos tornados desnecessários em qualquer ministério governamental.

Mas não devem. Os militares constituem uma das poucas classes de servidores públicos (as outras são a polícia e a judicatura) que deve ser paga simplesmente para estar lá, e não necessariamente para fazer alguma coisa. E, no caso dos militares, é o pior dos sinais para eles e para o público se eles tiverem de fazer alguma coisa.

Porém, num Estado que assumiu todas as funções possíveis e imaginárias na sociedade, o resultado inevitável foi a perda do sentido de Estado. E, numa época de cortes orçamentais, cortam-se aos militares os benefícios de saúde e outros que eles possuíam no mesmo plano em que se cortam os benefícios de saúde aos jornalistas.

Os militares manifestam-se agora nas ruas de Lisboa perante uma certa apatia da opinião pública portuguesa. São dois maus sinais - a manifestação dos miliares e a apatia da opinião pública.