29.6.05

Ironia e ressentimento

Parece-me que neste post Pacheco Pereira confunde ironia com ressentimento. Não me parece que os contadores de trapalhados, pelo menos os que andam pela blogosfera, nos quais me incluo, tenham alguma intenção de derrubar o governo e por isso não estão minimamente preocupados com a eficiência de uma qualquer estratégia de crítica. A eficácia da estratégia de crítica é um problema dos políticos profissionais. O governo, como todos os governos, deve governar até ao final da legislatura, ou pelo menos enquanto tiver apoio parlamentar.

O que os contadores de trapalhadas pretendem demonstrar, quer-me parecer, é que o derrube do governo Santana Lopes foi um golpe de estado mediático que teve a cumplicidade do Sr. Presidente da República. Como é óbvio, o frenesim mediático do Outono de 2004 não se deveu ao amor dos jornalistas pela pátria. A verdade é que os mesmos factos têm agora um tratamento mediático muito mais amigável e o Sr Presidente da República, e mesmo alguns amigos da despesa social, até descobriram que não há vida para além do défice.

Ao contrário do que Pacheco Pereira sugere no seu post, a legitimidade eleitoral não é do primeiro ministro mas do Parlamento e este Parlamento tem exactamente a mesma legitimidade eleitoral que o anterior. O golpe de estado mediático do Outono contribuiu para perverter ainda mais o nosso sistema político. Foi derrubado um parlamento sob o pretexto de que o governo era incompetente tendo-se reforçado dessa forma o presidencialismo do primeiro-ministro e o poder dos líderes partidários dentro dos partidos.