29.10.07

Leituras: Why beautiful people have more daughters.



Publicado em Setembro de 2007 pela editora Perigee, New York, "Why beautiful people have more daughters" é uma obra de Alan S. Miller e Satoshi Kanazawa, sendo que, no que respeita ao primeiro autor, a obra é publicada a título póstumo.
###

O título do livro inspira-se no título de um artigo científico publicado no mesmo ano de 2007 no Journal of Theoretical Biology (vol. 244, pág. 133-140) por S. Kanazawa, no qual o autor explora a aplicação da generalized Trivers-Willard hypothesis à geração de descendência de cada um dos sexos. Para Kanazawa, a beleza/capacidade de atracção é mais importante no sexo feminino do que no masculino, pelo que a biologia humana teria evoluído no sentido de as pessoas mais atraentes gerarem mais filhas do que filhos. Para além disso, e ainda para o autor, "…women are significantly more physically atractive than men…".

A teoria original em causa, de R.L. Trivers e D.E. Willard (Science 1973 vol. 179 pág. 90-92), tendo em conta que "a male in good condition at the end of the period of parental investment is expected to outreproduce a sister in similar condition, while she is expected to outreproduce him if both are in poor condition" postula que "as maternal condition declines, the adult female tends to produce a lower ratio of males to females". A teoria de Trivers e Willard constituiu, sem dúvida, uma fonte de debate importante, uma vez que o artigo em causa foi citado em mais de mil artigos publicados ulteriormente.

Trata-se, pois, de desenvolvimentos dentro do campo geral da teoria evolucionista de Charles Darwin, uma teoria a que se associaram, no século XX, D.W. Hamilton e R. Dawkins.

Miller e Kanazawa, no princípio do livro (pág. 5), avisam que irão escrever "never talking about what ought to be at all and only talking what is", portanto procurando concentrar-se sobretudo na perspectiva científica e não na perspectiva moral, mais concretamente, na perspectiva da Psicologia Evolucionista, a escola a que pertencem.

Os autores criticam o que designam por "Standard Social Science Model", para a qual, alegadamente, "evolution stops at the neck" (pág.12), levando, na perspectiva que Miller e Kanazawa criticam, a valorizar unicamente o ambiente e as experiências vivenciais, em detrimento da biologia. Pelo contrário, para Miller e Kanazawa, "people are animals" (pág. 18), e "human behaviour is the product of both innate human nature and the environment (pág. 19)".

Miller e Kanazawa defendem que "the sex differences in behaviour, cognition, values, and preferences are largely innate; universal across cultures; and, in many cases, constant across species" (pág. 32). As mulheres, segundo os autores, prefeririam homens com "greater resources and higher status" (pág. 73), uma vez que estas seriam as condições mais apropriadas para o desenvolvimento da sua própria descendência.

Para os autores, deve notar-se, "women are the reason men do everything" (pág. 133). Razões do foro biológico contribuiriam para fenómenos como o crime e a violência, o assédio sexual, as diferenças de estatuto e vencimento entre os dois sexos, entre outros tópicos analisados pelos autores.

A religião é encarada pelos autores como estando associada a um possível "animistic bias" - o cérebro estaria preparado "to perceive intentional forces behind a wide range of natural physical phenomena" (pág. 160) uma vez que esse atributo constituiria uma estratégia de gestão de risco mais apropriada no contexto ancestral. Não atribuir erradamente um movimento de plantas, etc., a um ser animado (e.g. um predador) podia custar a vida, enquanto que o caso contrário, atribuir uma causa animada a um fenómeno físico natural, tal como a queda de um fruto, teria consequências muito menos graves.

Como nota final, pode dizer-se que "Why beautiful people have more daughters" é um livro de leitura interessante, capaz de provocar o espírito do leitor em numerosas passagens, não obstante muitas das ideias que são apresentadas poderem ser consideradas polémicas, desde logo a crítica às Ciências Sociais. A seu favor poderá invocar-se a preocupação dos autores em colocar os alicerces da obra no campo da observação empírica com base científica. Se as bases invocadas são suficientes para suportar as principais conclusões, é algo que poderá ficar a cargo da avaliação de cada leitor, uma vez que o livro encerra com uma extensa lista de bibliografia que poderá satisfazer mentes mais curiosas.

José Pedro Lopes Nunes