10.11.07

MOURO ENCANTADO *


O jogo não ia bem – Lucho ausente, Bosingwa emperrado, Quaresma desastrado. O Marselha surpreendia. A bancada começava a ofegar nervosamente. Olhei para o relógio: quase 30 minutos, já.
A bola vai para Tarik. Alguém grita: “Vê lá se fazes alguma coisa, c...!”
Não creio que o marroquino tenha escutado essa espécie de prece mas tudo se passou como se a tivesse acolhido. Bamboleou, acelerou em frente e chispando pela relva fora superou todos e a si mesmo, fintou o guarda-redes e fez golo.
Quando a bola entrou voltei a ser o menino arrebatado com o Seninho, o rapaz extasiado com o calcanhar de Madjer. Dizem que as vitórias é que enchem os estádios – é verdade, mas não é a única. Ocorrem instantes tão sublimes que reencontramos o que sempre fomos, mesmo sabendo que há sensações que a idade não deixa regressar. É muito por causa disso que ainda se vai ao futebol.

* Publicado quinta-feira, no Correio da Manhã