Nem no seu modo de funcionamento, nem na maioria dos seus protagonistas.
O comportamento titubeante a que estamos a assistir perante a desvergonha patentada por Souto Moura apenas reforça essa minha antiga convicção e torna público o estado decrépito das coisas.
Agora, perante o que se está a passar, a maioria das pessoas já pode ver com os seus próprios olhos o que são os juízes e os procuradores do seu país - a não ser que resolvam acreditar na versão Salvado (as gravações foram aldrabadas) ou na digníssima posição da Procuradoria (a culpa foi da porta-voz).
O poder político, também, parece apostado em rivalizar no destempero com o poder judicial. Perante este descalabro não demite aquela (falta de) vergonha que é Souto Moura alegando o valor da "estabilidade" e a iminência de julgamentos muito importantes.
Mas é exactamente por causa disso que Souto Moura deveria ser exonerado - foi a acção do Ministério Público e do gabinete do próprio Procurador-Geral que ajudou a desestabilizar a Justiça como nunca ninguém antes o havia feito.
O princípio do caminho para a "estabilidade" só será iniciado quando a lógica e as regras do jogo judicial sofrerem uma reviravolta e os portugueses tiverem a convicção de que os actuais protagonistas do poder judicial não são os mesmos que asnearam, colaboraram ou foram cúmplices conscientes da desagregação completa a que estamos a assistir.