24.9.04

Bússola política no Público

O Público teve uma boa iniciativa ao publicar hoje a posição dos candidatos à liderança do PS num mapa bidimensional. É claro que o próprio questionário está enviesado e por vezes não consegue distinguir uma posição libertária de uma posição autoritária.

Há de tudo.

Perguntas com pressupostos keynesianos:

- Controlar a inflação é mais importante que controlar o desemprego (como se só se pudesse ter uma coisa ou outra, ou como se ambos não fossem sintomas de problemas estruturais)

Perguntas que podem ser interpretadas como perguntas pessoais e que não têm necessariamente consequências políticas. Há quem consiga separar muito bem as suas preferências pessoais daquilo que deve ser a Lei. Exemplo:

- Quando estamos perturbados, é melhor não pensarmos nisso, e ocuparmo-nos com coisas alegres.

Confusão entre juizos de facto e juizos de valor:

- A primeira geração de imigrantes nunca se conseguem integrar completamente no seu país de acolhimento (o que pode ser sistematicamente verdade, mas não necessariamente bom. Curiosamente, os candidatos do PS discordam desta ideia. Se as respostas forem levadas à letra, somos forçados a concluir que nenhum deles acha que o estado deva apoiar a integração dos imigrantes. Afinal, eles já se conseguem integrar completamente).

- A astrologia explica muitas coisas de forma rigorosa (é uma questão científica, não é uma questão política -- como é que esta questão foi avaliada? A astrologia é de direita ou de esquerda? Autoritária ou Libertária?)

- Ninguém se pode sentir naturalmente homosexual (há até quem sinta que é o Napoleão. Os mistérios da mente humana são insondáveis. )

- Algumas pessoas são naturalmente azaradas(mesmo que fosse verdade, o que interessa não são os factos, mas as consequências políticas que se tiram dos factos)

Confusão entre juízos estéticos e juízos políticos:

- A arte abstracta não representa nada e não deve sequer ser considerada arte (dado que isto é uma questão de gosto, não vejo que implicações políticas possa ter)

Confusão entre a vida pública e a vida privada:

- As mães devem ter carreiras, mas o seu principal dever é para com o lar (algumas pessoas poderão reger as suas vidas privadas por esta regra, mas isso não significa que defendam que as políticas públicas devam ser igualmente regidas por ela)

- O sexo fora do casamento é geralmente imoral (dado que o que é imoral não tem que ser necessariamente ilegal, isto não tem necessariamente qualquer relevância política; Há pessoa que consideram o sexo fora do casamento imoral e não o praticam, e não são menos Libertárias por causa disso.)

Perguntas com pressupostos estatistas:

- As escolas religiosas têm um papel positivo no nosso sistema educativo. (como é que um Libertário responde a isto?)